quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Crescimento Histórico

A economia brasileira vinha crescendo a um ritmo espetacular até setembro, quando estourou a crise financeira internacional. Segundo a economista Amanda Tavares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, registrou expansão de 6,4% nos nove primeiros meses do ano, um recorde para o período conforme a série histórica iniciada em 1996. No acumulado de 12 meses, o salto de 6,3% também superou todas as bases de comparação. O pico do crescimento se deu no terceiro trimestre: o PIB aumentou 6,8% — o melhor número desde o segundo trimestre de 2004. Quando comparado o terceiro trimestre deste ano com os três meses anteriores, a economia avançou 1,8%. “Foi impressionante como a atividade econômica se acelerou entre julho e setembro. Por isso, tantos recordes”, disse Amanda.

A partir de agora, porém, o quadro será completamente outro. “A crise internacional colocou uma trava na economia brasileira. A imagem que temos, neste momento, é de um trem que vinha a uma velocidade de 200 quilômetros por hora e deu uma parada brusca. Todos os motores que o estavam movimentando — investimentos, produção e consumo — estancaram”, afirmou o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal. A tendência é de que, nos últimos três meses deste ano, o PIB registre queda de até 1,3% frente ao trimestre anterior. O mesmo deve ocorrer entre janeiro e março de 2009, confirmando um processo recessivo que só será revertido nos últimos seis meses do ano. Apesar da retração no último trimestre, o PIB de 2008, diante do forte avanço já contabilizado, cravará alta consolidada entre 5,5% e 6%. No próximo ano, porém, o crescimento ficará entre 2% e 3%.

Pelos cálculos do IBGE, todos os componentes do PIB apresentaram desempenhos excepcionais, quaisquer que sejam os parâmetros analisados. No acumulado dos nove primeiros meses de 2008, a agricultura (puxada pelas safras de cana, feijão e trigo) cresceu 6,7%, a indústria, 6,5%, e o setor de serviços, 5,5%. Na indústria, particularmente, o grande destaque foi a construção civil, com incremento de 10,2%. “Esse resultado reitera que a construção tem sido o motor do crescimento brasileiro, que criou mais de 300 mil postos de trabalho neste ano”, assinalou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão.

A construção foi impulsionada, principalmente, pela oferta maciça de crédito imobiliário, que cresceu 32,4% no terceiro trimestre ante o mesmo período de 2007. O crédito também foi importantíssimo para puxar dois segmentos estratégicos dentro do setor de serviços: o financeiro, com crescimento no ano de 13,4%, e o comércio, com expansão de 8,7%. Na avaliação do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, os empréstimos e financiamentos fizeram ainda a diferença para o consumo das famílias e para o impressionante salto dos investimentos produtivos (aformação bruta de capital fixo). Nos cálculos do IBGE, com o crédito às pessoas físicas crescendo quase 30%, o consumo das famílias expandiu-se 6,7% no ano. Já os investimentos deram um pulo de 17%, com o crédito às empresas aumentando mais de 40%.

“Esses números expressivos, no entanto, ficaram no passado. Com a crise atual, o mundo mudou para pior e, no Brasil, não será diferente”, destacou o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto. “O país enfrentará uma leve recessão, mas, no final das contas, sairá com crescimento em 2009 de 2,8%”, emendou. Para Cláudia Oshiro, analista da Consultoria Tendências, haverá queda do PIB no último trimestre de 2008, mas não recessão, pois o desempenho da economia nos três primeiros meses do ano que vem será positivo, mesmo que mínimo.

Jornal Correio Braziliense, edição de 10/12/2008.

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