sábado, 27 de dezembro de 2008

A viagem do elefante

Existe uma máxima da literatura segundo a qual todos os escritores acabam sempre escrevendo sobre si mesmos, por mais distante que a história esteja de sua vida. Mas, segundo José Saramago, o novo A viagem do elefante é seu livro que menos tem elementos pessoais, se comparado aos outros que publicou na carreira. Embora a ironia sempre tenha sido a tônica em vários de seus romances, esta é a primeira vez que o humor aparece de forma mais evidente, um paradoxo, porque, se a obra tivesse recebido influência de sua condição de vida na época em que escrevia, ela poderia ser outra, bem diferente.

Depois das primeiras 40 páginas, o português precisou interromper o trabalho por conta do agravamento de uma doença respiratória, que quase o levou à morte aos 85 anos – hoje, está com 86, comemorados no último dia 16 de novembro e, graças a isso, fez dedicatória à esposa Pilar Del Rio, a pessoa “que não deixou que eu morresse”. Ao sair do hospital, depois de alguns meses em recuperação, Saramago retomou o trabalho sem demora – dois dias depois de descanso domiciliar. “Estava às sombras de mim mesmo”, conta, referindo-se aos 51 quilos que pesava – bem menos do que o habitual, que beira os 70 quilos. Mesmo assim, a história seguiu sendo contada da maneira risonha como se via nas primeiras páginas, sem qualquer nota ou vestígio do que ele vivia internamente.

Saramago diz que essa verve humorística foi mantida, mas não de propósito, de forma consciente. “Não é que parei num ponto e retomei depois, exatamente da maneira que estava fazendo no começo; isso não pode ser afirmado. O livro é assim porque quis ser assim, e isso parece um absurdo por ser o autor e não ter nenhuma autoridade sobre aquilo que escrevo – temos menos autoridade do que se julga ter –, mas o que é normal é que aquela corrente que se tem no começo da obra, e nos leva ao longo da história, não pôde ser contrariada”, conta.

O enredo é simples e trata da viagem de um elefante indiano, o Salomão, de Lisboa até Viena, na Áustria, em meados do século 16. O animal da coroa portuguesa, que permanecia esquecido e sem serventia nenhuma para o país, foi oferecido como presente de casamento ao arquiduque austríaco Maximiliano II pelo rei de Portugal, Dom João III e sua esposa Catarina de Áustria. Os monarcas preparam então a viagem de Salomão, primeiro até a Espanha e depois até Viena. No caminho, diversas passagens arrancam gargalhadas do leitor como as que tratam da relação entre o responsável pelo elefante, o personagem indiano Subhro, e o comandante da tropa real portuguesa.

PARADOXO
Embora Saramago veja um paradoxo em relação ao tipo de texto que escreveu e à condição de vida sob a qual o concebeu, existe a possibilidade de interpretar que o tom humorístico – natural da história, segundo o escritor – pode estar ligado à sua experiência pessoal. Talvez Saramago esteja diante da perspectiva da morte. E assim, ao invés de se deixar abater, parte para se manter alegre. Tanto que o humor, marca do livro, está estampado na própria figura de Saramago. Ele está bem e não aparenta sinais de doença ou fraqueza, embora fisicamente, pela idade, as condições sejam difíceis. Agüentou sem reclamar uma hora e quinze minutos de perguntas durante a coletiva de imprensa promovida na última semana de novembro, por conta da abertura da exposição José Saramago: consistência dos sonhos (ver boxe), na qual esta matéria está ancorada.

O autor não perdeu a chance de dar respostas ácidas, e bem-humoradas, a todos os jornalistas. Quando alguém perguntou se estar à beira da morte tinha mudado alguma coisa, disse que não. Para ele, mesmo que não tivesse passado pela doença, continuaria a dizer tudo o que disse na coletiva. Mas, talvez apenas duas coisas, que já havia dentro dele, podem ter se acentuado: a primeira é a serenidade; e a segunda, “a certeza de que não precisamos ler Paulo Coelho”, como brincou, citando na coletiva o escritor brasileiro.

Além da graça, outra marca de A viagem do elefante está na linguagem, que mescla palavras contemporâneas com as arcaicas dos séculos 16 e 17. Em um dos diálogos com Subhro, o conarca do elefante – que significa o seu responsável –, o comandante da tropa real chama o paquiderme de “abantesma”, palavra típica da época que, segundo o Aurélio, variava com pantesma, que significava fantasma, alma de outro mundo. Saramago chama a atenção para que, lida sob o aspecto da linguagem, a obra se torne ainda mais prazerosa. Porém, diz que esta decisão de mesclar as linguagens não foi proposital. De acordo com ele, mesmo antes da doença, quando começou a escrever, essa mistura foi aparecendo naturalmente, a partir da memória de um vocabulário de sua infância e adolescência que ficou acumulado. Mesmo sem intenção, Saramago acabou falando de si e chegou onde tinha que chegar. ©

Revista da Cultura edição 17 dezembro de 2008

Perdão

A Medida Provisória (MP) 449/08, em análise na Câmara dos Deputados (CD), autoriza a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) a perdoar as dívidas de contribuintes, até o valor de R$ 10 mil.

A regra vale para os débitos tributários inscritos na Dívida Ativa da União (DAU), que em 31 de dezembro de 2007 estavam vencidos há cinco anos ou mais. De acordo com a PGFN, o perdão total dos débitos fiscais - que em Direito se chama remissão tributária - vai custar R$ 3,53 bilhões aos cofres públicos, beneficiando 1,6 milhão de empresas e 453 mil pessoas. Isso representa 2,6 milhões de processos - que, devido ao perdão, serão arquivados. A remissão será automática. Ou seja, o contribuinte não precisará pedir a sua exclusão da dívida ativa.

Segundo a PGFN, o custo de manter cada processo administrativo de execução beira a casa dos R$ 14 mil por ano, valor superior ao da dívida questionada. Atualmente, há R$ 539,6 bilhões em tributos atrasados na dívida ativa.

A mesma MP determina que as dívidas de até R$ 10 mil, vencidas até 31 de dezembro de 2005, serão renegociadas. O contribuinte poderá optar por pagar o débito à vista ou em seis prestações mensais, com isenção de multa e encargos e redução de até 30% dos juros.

Há ainda a possibilidade de repactuar o valor atrasado em 30 ou 60 prestações, mas nesses casos o desconto sobre as multas será, respectivamente, de 60% e 40%, sem redução dos juros. A prestação mensal não poderá ser inferior a R$ 50, no caso de pessoa física, e a R$ 100, no caso de pessoa jurídica.

Como em renegociações passadas, o direito ao parcelamento só será dado ao contribuinte que desistir de ação judicial contra a Fazenda Nacional. O pedido de repactuação poderá ser feito até 31 de março de 2009.

Além do perdão das dívidas de pequeno valor, a MP 449/08 permite um novo parcelamento, e até a quitação, do saldo devedor dos contribuintes que aderiram aos programas de Recuperação Fiscal (Refis) e de Parcelamento Especial (Paes), previstos, respectivamente, nas leis 9.964/00 e 10.684/03.

O parcelamento também será estendido para beneficiar empresas que usaram indevidamente créditos gerados pela alíquota zero do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), para abater outros tributos, e que por isso têm um passivo perante a Receita Federal.

Nesses casos relativos a empresas, a renegociação será feita com base nos débitos apurados, até 31 de maio deste ano. A exemplo da renegociação das dívidas de pequeno valor, o parcelamento poderá ser feito à vista ou em seis vezes, com descontos maiores, ou em 24, 60 e 120 meses, com abatimento menor. O valor mínimo de cada prestação não poderá ser inferior a R$ 2 mil.

A MP passará a trancar a pauta da Casa onde estiver tramitando (Câmara ou Senado), no dia 28 de fevereiro de 2009.

Saiba aqui mais sobre a tramitação de MPs e a íntegra da MPV 449/2008.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Aviação

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) aprovou, em caráter conclusivo, o Projeto de Lei (PL) 4464/04, que cria a Área de Segurança Aeroportuária (Asa), na qual deverão ser respeitadas normas para evitar acidentes aéreos causados por colisões com pássaros. A CCJC agora vai elaborar a redação final da proposta, que seguirá para análise do Senado Federal (SF).

A Asa será uma área circular, que poderá abranger um ou mais municípios, definida a partir do centro da pista de pouso e decolagem, onde o uso e a ocupação do solo vão ficar sujeitos a restrições especiais, para impedir a atração de aves.

A CCJC aprovou o parecer da relatoria, que é favorável ao Projeto, ao substitutivo da Comissão de Viação e Transportes e a uma emenda da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

O substitutivo faz apenas adaptações jurídicas ao texto original, para adequá-lo às leis vigentes. A emenda lista atividades que atraem pássaros a serem proibidas, como as relacionadas a aterros sanitários, entrepostos de pesca e depósitos de lixo.

São exemplos de atividades com potencial de atração de aves, e que vão ficar proibidas nas Asas, os matadouros, os curtumes e determinadas culturas agrícolas. Segundo o PL, deverão ter fim, imediato ou gradual, todas as atividades atrativas de aves nas proximidades dos aeroportos, observada a legislação ambiental quanto à exigência de recuperação da área degradada.

Quem infringir essa norma, ficará sujeito a medidas administrativas como a suspensão de atividade; interdição de área ou estabelecimento; e embargo de obras. E haverá as seguintes penalidades: advertência; multa simples; multa diária; e cessação de atividade.

De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos do Ministério da Defesa, foram reportados, entre 1993 e 2003, 2.636 acidentes aéreos provocados por colisões com aves. Em 2004, houve aumento de 29% no registro desse tipo de acidente, com um total de 441 casos e prejuízos de cerca de R$ 6 milhões.

O Projeto prevê a instituição de uma Política de Controle Aviário (PCA), com metas de caráter genérico, aplicáveis a todos os aeroportos e às suas áreas de segurança, para minimizar o problema.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Natal


Natal

Olavo Bilac


Jesus nasceu. Na abóbada infinita

Soam cânticos vivos de alegria;

E toda a vida universal palpita

Dentro daquela pobre estrebaria...



Não houve sedas, nem cetins, nem rendas

No berço humilde em que nasceu Jesus...

Mas os pobres trouxeram oferendas

Para quem tinha de morrer na cruz.



Sobre a palha, risonho, e iluminado

Pelo luar dos olhos de Maria,

Vede o Menino-Deus, que está cercado

Dos animais da pobre estrebaria.



Nasceu entre pompas reluzentes;

Na humildade e na paz deste lugar,

Assim que abriu os olhos inocentes

Foi para os pobres seu primeiro olhar.



No entanto, os reis da terra, pecadores,

Seguindo a estrela que ao presepe os guia,

Vem cobrir de perfumes e de flores

O chão daquela pobre estrebaria.



Sobem hinos de amor ao céu profundo;

Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!

Sobre esta palha está quem salva o mundo,

Quem ama os fracos, quem perdoa o mal,



Natal! Natal! Em toda a natureza

Há sorrisos e cantos, neste dia...

Salve Deus da humildade e da pobreza

Nascido numa pobre estrebaria.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Publicidade

A Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJC) aprovou a inclusão na lista de serviços tributáveis pelo Imposto sobre Serviços (ISS), a veiculação e divulgação de textos, desenhos e outros materiais de publicidade.

O texto aprovado é o substitutivo da Comissão de Finanças e Tributação ao Projeto de Lei Complementar 230/04.

A relatoria à matéria recebeu parecer favorável à constitucionalidade, juridicidade e técnica legislativa do projeto original e do substitutivo. Este tem preferência para votação no Plenário da Câmara dos Deputados (CD), onde aguarda decisão para entrar na pauta.

De acordo com o substitutivo aprovado na Comissão de Finanças e Tributação, o imposto municipal não será cobrado sobre a veiculação de publicidade em jornais, periódicos, rádio, televisão, livros ou internet.

As empresas também poderão excluir da base de cálculo os valores referentes à locação dos espaços efetivamente utilizados na veiculação e os descontos legais em favor de agências de publicidade.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Planos de Saúde

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) aprovou o Projeto de Lei (PL) 3799/00, que autoriza santas casas e hospitais filantrópicos a operar planos de saúde diretamente, com a simples abertura de filial ou departamento com inscrição no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas (CNPJ). Aprovada em caráter conclusivo, a proposta segue para análise no Senado Federal (SF).

Atualmente, essas entidades e todas as demais que decidirem criar um plano de saúde, são obrigadas por lei a constituir uma pessoa jurídica exclusiva para prestar esse serviço.

A CCJC não analisou o mérito da matéria, já aprovada pela Comissão de Seguridade Social e Família, no ano de 2003.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Ceará: Para Encerrar 2008

Com base no estudo Contas Regionais do Brasil 2003-2006, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), faço uma breve descrição dos principais indicadores pesquisados, particularizando o Ceará, época em que o médico Lúcio Alcântara (foto) era Governador do Estado.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) elaborou estimativas do Produto Interno Bruto (PIB), de cada Unidade da Federação, apresentando resultados dos anos de 2003 a 2006. Com base nestas informações, cito as principais características econômicas divulgadas para o período, relativas ao desempenho econômico do Estado do Ceará, de forma resumida.

1. Produto Interno Bruto (PIB)
O PIB do Estado do Ceará, no ano de 2006, atingiu a R$ 46,310 bilhões, o da Região Nordeste R$ 311,175 bilhões e do Brasil R$ 2,369 trilhões, significando que o Ceará representou 1,95% da economia nacional e 14,88% da economia nordestina naquele ano. Vale notar que a participação relativa do Estado, no período 2003 a 2006, se manteve praticamente constante em relação à economia nordestina, que também experimentou um crescimento acentuado no período, mas ambos experimentaram um pequeno aumento na participação relativa em relação à economia brasileira como um todo.

2. Taxa de Crescimento Econômico
O Estado do Ceará, entre o ano de 2005 e 2006, experimentou uma variação real anual percentual do PIB, de 8,0%, a maior entre todos os estados da Federação. Neste mesmo período, o crescimento médio do Brasil foi de 4,0%, enquanto o da Região Nordeste foi de 4,8%, o melhor desempenho regional, junto com a Região Norte.

3. Produto Interno Bruto per capita
No que tange ao Produto Interno Bruto per capita, isto é, o PIB proporcional à população, o Estado do Ceará apresentou elevação substancial ao longo do período, passando de R$ 4.145, em 2003, para R$ 4.622, em 2004, R$ 5.055, em 2005 e R$ 5.636, em 2006, o que representou um crescimento de 11,5% entre 2003 e 2004, 9,4% entre 2004 e 2005 e 11,5% entre 2005 e 2006.

O Produto Interno Bruto a preços correntes é o Valor Adicionado bruto a preços de mercado acrescido dos impostos sobre produtos, líquidos de subsídios.

Não obstante essa nítida evolução dos indicadores per capita, em termos relativos, o Estado do Ceará, em 2006, ainda estava abaixo da média da Região Nordeste, com R$ 6.029, e da média nacional, com R$ 12.688. No entanto, o crescimento da renda per capita cearense, no período 2003/2006, ficou acima da média nacional, apesar de ligeiramente inferior à média nordestina.

Tais resultados devem ter em conta que o crescimento da população cearense no período, de cerca de 4,6%, foi substancialmente superior à média nordestina, de 3,6% e à média nacional, de 4,3%.

4. Variação Acumulada de Volume do PIB – 2003/2006
Em termos acumulados, é possível concluir, dos resultados do IBGE, que o desempenho extraordinário da economia cearense, atingindo o maior índice de crescimento brasileiro, entre 2005 e 2006, não se repetiu nos anos anteriores. De fato, tomado como base o ano de 2002, o crescimento acumulado do Estado do Ceará até 2006, atingiu 18,0% equivalente à média nordestina.

5. Desempenho Setorial
A participação setorial na economia cearense foi descrita para os anos de 2003 a 2006, através dos percentuais relativos dos setores das Contas Nacionais em relação ao total do valor adicionado bruto estadual. Destacam-se as seguintes informações:

a. os setores de maior peso relativo em 2006 foram: Administração, saúde e educação públicas (21,1%), Comércio e serviços de manutenção e reparação (14,4%), Indústrias de transformação (12,4%), Atividades imobiliárias e aluguel (8,6%), Produção e distribuição de gás, água e
esgoto e limpeza urbana (5,6%), Intermediação financeira, seguros e previdência complementar (5,2%), Agricultura, silvicultura e exploração florestal (5,1%) e Construção (4,8%);

b. desses principais setores, houve nítido crescimento relativo, no período 2003/2006, dos setores de comércio e serviços de manutenção e reparação, construção e indústria extrativa
mineral, enquanto houve retração relativa de atividades imobiliárias e aluguéis e de indústrias de transformação, sendo que a participação relativa do setor mais importante, administração, saúde e educação públicas, manteve-se praticamente inalterada, em torno de 26% do total;

c. o setor de agricultura, silvicultura e exploração florestal teve forte redução de participação relativa no ano de 2005, caindo de 3,5% para 2,4%, mas, no ano de 2006, teve grande recuperação, voltando a 2,9% do total, o que representou o maior crescimento de participação relativa no biênio 2005/2006. De fato, entre 2005 e 2006, o setor cresceu 53,7% em termos absolutos;

d. no período em que o Estado do Ceará apresentou a maior taxa de crescimento do País, entre 2005 e 2006, a contribuição desagregada setorial para esse crescimento foi: Agricultura, silvicultura e exploração florestal (53,7%), Pecuária e pesca (4,4%), Indústria extrativa mineral (0.5%), Indústrias de transformação (4,4%), Construção (12,4%), Produção e distribuição de eletricidade, e gás, água, esgoto e limpeza urbana (1,8%), Comércio e serviços de manutenção e reparação (12,1%), Serviços de alojamento e alimentação (7,3%), Transportes, armazenagem e correio (6,5%), Serviços de informação (2,4%), Intermediação financeira, seguros e previdência complementar (13,8%), Serviços prestados às famílias e associativos (3,0%), Serviços prestados a empresas (8,9%), Atividades imobiliárias e aluguel (1,9%), Administração, saúde e educação públicas (4,1%), Saúde e educação mercantis (0,6%), Serviços domésticos (5,5%).

6. Conclusões
O desempenho da economia cearense no período pesquisado foi muito bom, superando a média nacional, mas teve oscilações significativas. Em particular entre 2005 e 2006, o Estado do Ceará apresentou taxa de crescimento do PIB da ordem de 8,0%, o dobro da média nacional e a maior do País.

Chama particularmente a atenção o desempenho do setor de agricultura, silvicultura e exploração florestal no período, uma vez que teve forte queda de produção entre 2003 e 2004, mas apresentou uma recuperação extraordinária entre 2005 e 2006, com 53,7% de crescimento.

É interessante destacar que o setor de maior peso relativo na economia cearense, é o setor de administração, saúde e educação públicas, representando cerca de 21% da economia cearense, valor que supera a média nacional, que gira em torno de 15%. Por outro lado, o setor de indústrias de transformação representa 12% da economia cearense, enquanto a média nacional é de 18% no período.

Vale ressaltar que o processo de desenvolvimento do Estado do Ceará demontra uma substancial diversificação setorial e, apesar do setor público ainda ser muito representativo, há setores importantes que estão em franco desenvolvimento e já representam mais de 5% da economia estadual.

Balanço 2008

Aprovamos na Câmara dos Deputados (CD), no ano de 2008, 508 proposições. O Plenário da Casa realizou 162 sessões deliberativas, com a aprovação de 209 propostas: 53 projetos de lei (PL), 51 medidas provisórias (MPV), 8 projetos de lei complementar (PLP), 8 projetos de resolução (PRC), 4 propostas de emenda à Constituição (PEC) (sendo 1 somente em primeiro turno) e 85 projetos de decreto legislativo (PDC) e mensagens com acordos internacionais.

Outros 299 projetos de lei foram aprovados, em caráter conclusivo, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).

Entre 2007 e 2008, o Plenário da Câmara aprovou 351 matérias, entre as quais estão 113 medidas provisórias e 7 propostas de emenda à Constituição (PECs). Outras 570 proposições foram aprovadas pelas comissões, em caráter conclusivo, e seguiram para o Senado Federal (SF), ou para sanção do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Estes são números significativos diante das dificuldades enfrentadas, como a quantidade de sessões com pauta trancada por medidas provisórias - 214 nesses dois anos -, as sucessivas obstruções e as eleições municipais em outubro deste ano. No biênio, o Plenário teve 141 sessões livres para votação de uma pauta definida por nós mesmos.

Entre as propostas aprovadas, encontramos projetos polêmicos como a Lei Seca (Lei 11.705/08) - que, apesar de ter sido uma iniciativa do Executivo, teve sua espinha dorsal elaborada na Câmara -, o que estabelece as cotas sociais e raciais em universidades públicas, projetos na área de segurança e outros projetos que já tramitavam há anos no Congresso Nacional (CN), como o que regulamenta o uso de cobaias na pesquisa, em discussão desde 1995.

Aprovamos também projetos de apelo social, como o que permitiu a licença-maternidade de seis meses e o que criou a guarda compartilhada.

Entre as propostas de emenda à Constituição (PEC) aprovadas, também se destacam a PEC dos Municípios, que regulariza a situação jurídica de cidades criadas até dezembro de 2006, em desacordo com as regras constitucionais; e a PEC dos Vereadores, que aumenta o número de vereadores dos atuais 51.748 para 59.791, mas reduz o limite de gastos das câmaras de vereadores.

Confira as propostas aprovadas por área:

Segunda Maravilha

O Governo do Distrito Federal (GDF) e o Bureau Internacional de Capitais Culturais realizaram a certificação das Sete Maravilhas do Patrimônio Cultural e Material de Brasília.

O Palácio do Congresso Nacional obteve a segunda maior votação entre os 25 monumentos selecionados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O monumento mais votado foi a Catedral de Brasília. Os outros cinco monumentos que foram escolhidos para compor as Sete Maravilhas são o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Templo da Boa Vontade, o Santuário Dom Bosco e a Ponte JK.

A eleição ocorreu em junho deste ano, por correio eletrônico. Participaram 22.971 pessoas, que emitiram 64.718 votos (cada pessoa poderia votar em até sete monumentos).

A eleição do Palácio do Congresso Nacional deverá aumentar o número de visitantes, que hoje é de mais de 150 mil pessoas anualmente. As visitas ocorrem diariamente, a partir do Salão Negro do Congresso, das 9h30 às 17 horas.

A Câmara dos Deputados (CD) também oferece, em sua página na internet, a Visita Virtual.

A eleição das Sete Maravilhas de Brasília fez parte de uma iniciativa do Bureau Internacional de Capitais Culturais, que também promoveu a escolha das Sete Maravilhas de Barcelona e Madri (Espanha), Nizhny Novgorod (Rússia) e Sarajevo (Bósnia e Herzegovina).

O objetivo da eleição é aumentar a divulgação do patrimônio local e incentivar a visita aos lugares indicados.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Shakespeare Nordestino

Aos 81 anos, o dramaturgo, romancista e poeta Ariano Suassuna não tem mais pressa para nada, muito menos para publicar um livro. Atualmente, dedica-se a finalizar um romance que vem escrevendo desde 1981 e, como ele classifica, deve ser a grande obra de sua vida. Suassuna ainda não entregou o manuscrito à editora José Olympio, que fará a publicação, e muito menos tem prazo definido para fazê-lo. “O livro não tem data certa para ficar pronto, porque escrevo a mão. Quanto ao título, escolho como o nome de um filho: só depois do nascimento”, diz o autor, tranqüilo. Mas ele adianta que haverá um capítulo inteiro dedicado à ginasta Daiane dos Santos, pela qual tem grande admiração e respeito.

Ao longo de sua obra, Suassuna sempre procurou trazer à luz esta “alma” brasileira expressa em seus personagens. Nem sempre entendido, mas muito admirado, já foi chamado de “o decifrador de brasilidades”. E elogio é o que não falta para ele. Bráulio Tavares, escritor e compositor, descreveu o autor como altamente acessível: “Ariano Suassuna ‘dá uma geral’ nas principais teorias da Estética, desde Platão e Aristóteles até Hegel e Bergson. Mesmo lidando com uma matéria tão rarefeita, evita o jargão e mantém o discurso num tal nível de acessibilidade que até eu, que tenho uma formação filosófica da ordem do zero-vírgula, fico com a sensação de ter entendido uma porção de coisas”, explica.

Pois já dizia Ortega y Gasset: “A clareza é a cortesia do filósofo”. Já Antonio Candido, poeta, ensaísta e um dos principais críticos literários brasileiros, afirmou que Suassuna foi quem melhor descreveu o jeito matreiro do nordestino: “João Grilo é, para quem não sabe, o amarelo mais amarelo e safado do mundo”. Este personagem é também a representação do nordestino miserável e espertíssimo, pois é somente com esta esperteza que ele se alimenta e sobrevive em uma realidade terrível”. Assim como o mestre do teatro moderno William Shakespeare, o autor também tem uma obra que dá voz e vez a personagens brasileiros, nordestinos e pobres. O dramaturgo inglês fazia algo similar ao trazer para o centro da narrativa coveiros e guardas, que antes dele não faziam parte do teatro.

ENERGIA PURA
Quem pensa que o senhor Suassuna sossegou ao passar dos 80 anos se engana redondamente. O grande autor nacional surpreende cada vez mais com seu humor, sua inteligência e seu carisma. Em entrevista à revista Época, em 2007, antes de seu aniversário, o escritor disse que não há muita diferença entre fazer 70 e 80 anos. “Há vantagens e desvantagens. Se por um lado você tem mais experiência e não tem mais aquela urgência, também está mais perto da morte. A vida me deu muitos golpes, mas eu segui de cabeça erguida”, afirmou na matéria.

E é assim que estufa o peito para defender a cultura popular brasileira, em especial a nordestina. Para ele, a música estrangeira, assim como os filmes e a cultura de modo geral são dignos de jogar fora. “A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio. Por exemplo: dizem que o rock americano é música de jovem e sempre querem me converter. Quer coisa mais triste do que roqueiro velho? E agora com esse funk importado? Diz pra mim o que ele traz de cultura para nosso povo?”, declarou em uma aula que ministrou recentemente no Teatro Adamastor, em Guarulhos, São Paulo.

Na mesma ocasião, abordou, com seriedade e um toque de ironia, a política e o cenário brasileiro atual. “Estamos vivendo um momento perigoso, repleto de maldades expostas e exploradas pela mídia. Andaram convencendo a gente de que brasileiro não tem valor. E eu digo que vale muito! O que a gente precisa é acabar com o abismo que existe entre o Brasil oficial, dos privilegiados, e o Brasil real, dos desprivilegiados. Só assim teremos um país justo e realmente grande, como suas extensões territoriais.”

PRIMEIRA INFÂNCIA
Ariano Vilar Suassuna causa tumulto desde o seu nascimento. Naquele 16 de junho de 1927, a tão esperada procissão de Corpus Christi da cidade de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), teve de ser interrompida, porque, no palácio do governo, tinha acabado de nascer o filho do então governador João Suassuna.

Na primeira infância, Ariano morou no Sítio Acauã, no sertão do estado. Aos 3 anos de idade, porém, uma tragédia familiar mudaria para sempre os rumos do futuro escritor e dramaturgo: seu pai fora assassinado devido a conflitos políticos da Revolução de 1930. Após o ocorrido, sua família começou a sofrer perseguições, sendo obrigada a se refugiar na cidade de Taperoá, interior da Paraíba. E, por decisão do próprio destino, foi lá que estudou e teve o primeiro contato com o teatro nordestino. Anos mais tarde, essa vivência com um mundo artístico tão rico em imaginação e improvisação acabou influenciando profundamente suas obras, principalmente sua produção teatral.

Aos 15 anos, foi morar em Recife. Lá concluiu os estudos e em 1947, antes de se formar em direito e filosofia, escreveu sua primeira peça de teatro, Uma mulher vestida de sol, que um ano mais tarde recebeu o prêmio Nicolau Carlos Magno. Juntamente com Hermílio Borba Filho, que conheceu na Faculdade de Direito, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. A década de 1950 foi marcada por muitas produções de Suassuna, que começou a ser reconhecido por sua imaginação e talento. A aclamação veio enfim em 1955 com o Auto da compadecida, obra que o projetou em todo o país e que até hoje faz sucesso com o público, devido às inúmeras montagens para teatro e adaptações criadas para cinema e televisão. Sem saber qual a extensão de sucesso que essa peça teria mais de 50 anos depois de sua estréia, o critico teatral Sábato Magaldi, ainda em 1962, teria dito que “o Auto da compadecida é o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”. Guel Arraes, que adaptou a peça para a TV e, mais tarde, para o cinema, ganhou prêmios da crítica e o reconhecimento do público. Nos anos 1960, foi adaptada para o cinema por George Jonas, com Regina Duarte, Armando Bógus e Antonio Fagundes no elenco. Nos anos 1980, nova adaptação, desta vez feita por Roberto Farias e com o trapalhão Renato Aragão no papel de João Grilo. Na versão mais recente, o filme se beneficia das atuações de Matheus Nachtergaele e Selton Melo, respectivamente como João Grilo e Chicó.

IMORTAL
Em 1956, Ariano Suassuna deixa de lado a advocacia e se torna professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco. O autor seguiu escrevendo e, entre os muitos livros e peças que produziu, destacaram-se: O santo e a porca e O casamento suspeitoso, de 1957; A pena e a lei (esgotado) e Romance d’a pedra do reino, de 1959, esta obra adaptada por Antunes Filho em 2006 para o teatro e por Luiz Fernando Carvalho para uma minissérie de televisão, além de A farsa da boa preguiça, de 1960, e A caseira e a Catarina, de 1961.

Sobre a adaptação para o teatro de Romance d’a pedra do reino, o autor se mostrava cético até ver o resultado final do espetáculo de Antunes Filho. Ele dizia que o romance não servia para ser peça. O motivo de sua descrença era o desafio de encolher para uma hora e meia de duração, as 756 páginas da obra. Justamente o que estimulava o diretor Antunes Filho a adaptá-la. Em 2006, exatos 23 anos depois, o diretor comemorava a estréia da peça, com aprovação do autor. Na época, Antunes comentou: “Na verdade, acho que há duas décadas não estávamos prontos para o espetáculo. Nem eu, nem o grupo, nem o público.”

Em 1970, idealizou o Movimento Armorial, que consistiu no concerto Três séculos de música nordestina: do barroco ao armorial, na Igreja de São Pedro dos Clérigos, e em uma exposição de gravura, pintura e escultura. A iniciativa teve duas preocupações: lutar contra o processo de descaracterização e vulgarização da cultura brasileira e procurar uma arte erudita baseada nas raízes populares da própria cultura do país.

Desde 1990, o escritor ocupa a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras. Em 1993, também foi eleito para a cadeira 18 da Academia Pernambucana de Letras. Em 1994, se aposentou como professor da Universidade Federal de Pernambuco. Dentre as muitas homenagens que recebeu, a da escola de samba Mancha Verde é a mais recente e, certamente, uma das mais inesquecíveis para o mestre. E sempre que for homenageá-lo, o povo pode bradar uma verdade nacional, que foi o tema do carnaval: “És imortal. Ariano Suassuna. Sua vida, sua obra, patrimônio cultural”. ©

Revista da Cultura edição 17 - dezembro de 2008

Mídia Eletrônica


A instituição de cotas para conteúdo nacional na TV por assinatura voltou a causar polêmica na última terça-feira, 16, em audiência sobre o Projeto de Lei (PL) 29/07, promovida pela Comissão de Defesa do Consumidor (CDC).

A proposta estabelece novo marco regulatório para o mercado da distribuição e produção de conteúdo audiovisual, com a finalidade de ampliar a competição e a concorrência.

No Brasil, a participação da TV por assinatura no mercado de mídia eletrônica é estimada entre 8% e 12%, enquanto na Argentina, na Índia, na China e na maioria dos países da Europa, ela já supera os 50%.

A CDC poderá votar esta matéria logo no início da sessão legislativa de 2009.

Devagar

Festina lente.
(Apressa-te devagar)
César Augusto