A Academia Cearense de Letras (ACL), entidade literária máxima do Estado do Ceará, e a mais antiga das academias de letras existentes no Brasil, completa, hoje, 15 de agosto, 114 anos.
Fundada três anos antes da Academia Brasileira de Letras, a história da ACL é dividida em três partes. A primeira, tem início na data de sua criação e vai até 17 de julho de 1922, quando Justiniano de Serpa lhe promove a reconstituição. Esse primeiro período foi áureo para as letras cearenses, quando a inquietação de intelectuais já havia motivado a criação da Padaria Espiritual, dois anos antes de sua fundação.
O Ceará ocupava, então, importante papel dentro do movimento literário nacional, tendo se antecipado, inclusive, à Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorrida em São Paulo, no período de 11 a 18 de fevereiro de 1922.
Inspirada pela Academia de Ciências de Lisboa, foi fundada em Fortaleza como Academia Cearense, publicando sua primeira revista em 1896, com edições anuais até 1914. Inicialmente, com 27 membros, teve como primeiro Presidente, Tomás Pompeu de Sousa Brasil Filho.
Quando surgiu, não eram exclusivamente literários os seus objetivos, uma vez que, ao lado das letras propriamente ditas, abrangia ela o campo das ciências, da educação ou da arte, de um modo geral.
Basta lembrar que, no livro que a agremiação pretendia publicar, e que se intitularia O Ceará em 1896, era desejo dos acadêmicos estudarem o Estado sob inúmeros aspectos, dentre os quais o solo, com sua estrutura física e sua topografia; a flora e a fauna; o povoamento, as raças, os costumes; a higiene; crenças e religiões; artes e letras; cultura científica; educação; política; organização militar; organização eclesiástica; agricultura, indústria, comércio, finanças, história, etc. Mas, haveria de transformar-se em Academia Cearense de Letras, designação mais própria com a função que assumiria pelos tempos afora.
Seus fundadores foram Guilherme Studart, Justiniano de Serpa, Farias Brito, Drumond da Costa, José Fontenele, Álvaro de Alencar, Benedito Sidou, Franco Rabelo, Antônio Augusto, Pedro de Queirós, Alves Lima, Valdemiro Cavalcante, Tomás Pompeu, Raimundo de Arruda, Álvaro Mendes, José Carlos Júnior, Virgílio de Morais, José de Barcelos, Antônio Bezerra, Eduardo Studart, Adolfo Luna Freire, Eduardo Salgado, Alcântara Bilhar, Antonino Fontenele, Antônio Teodorico, Padre Valdivino Nogueira, e Henrique Théberge. Com a morte de José Carlos Júnior, entrou para a Academia, Rodrigues de Carvalho.
A partir dos primeiros anos do século XX, a Academia vinha diminuindo o ímpeto de suas atividades. A agremiação estava de tal maneira apagada, por volta de 1922, que Leonardo Mota, em palestra no Salão Juvenal Galeno, lamentou que não houvesse, no Ceará, uma Academia de Letras. E isso na presença do então Presidente do Estado, Justiniano de Serpa, um dos fundadores da Academia Cearense.
A segunda fase teve início nessa época, quando Justiniano de Serpa convidou o autor de Cantadores para, juntamente com ele, Tomás Pompeu e o Barão de Studart, reorganizarem a Academia.
A instituição contava, em 1922, com somente oito membros ainda residentes em Fortaleza. Dos 28, os 27 fundadores, mais Rodrigues de Carvalho, ou tinham morrido ou estavam fora do Ceará. Com a denominação de Academia Cearense de Letras, foram ampliadas as vagas, passando, então, para as atuais 40 cadeiras.
A exemplo da Academia Brasileira de Letras, que se inspirava na Academia da França, fundada por Richelieu, a instituição cearense teria um patrono para cada cadeira, ficando sua denominação mudada, para Academia Cearense de Letras. Como Presidente, ficou Tomás Pompeu, dando-se a Presidência de Honra a Justiniano de Serpa. Infelizmente, no ano seguinte ao de sua reformulação, a morte de Justiniano de Serpa, em 1° de agosto de 1923, faz a Academia mergulhar na penumbra por mais sete anos.
Somente em 1930, tendo assumido o Governo do Estado, José Carlos de Matos Peixoto, que havia figurado entre os 40 componentes da Academia, em 1922, houve nova mudança. Em 21 de maio daquele ano, foi instalada a reunião de reorganização da instituição, agora em definitivo, até os nossos dias, na casa de Walter Pompeu. Desde então, sua revista passou a ser publicada ininterruptamente.
Nessa época, foi criada em Fortaleza outra associação literária, denominada Academia de Letras do Ceará, fazendo parte dela escritores independentes de grupos, ao lado de alguns membros da Academia Cearense de Letras e de alguns sócios de agremiação em 1922, mas excluídos na segunda reorganização.
Mário Linhares, em 1948, residindo no Rio de Janeiro, fala, num livro, sobre a existência dessas duas academias, e transcreve um texto em que Martins d'Alvarez lamenta: -É pena que as duas 'Academias' do Ceará não se fundam numa só, como tem acontecido em vários Estados da Federação, para que haja maior equilíbrio, harmonia e força expressional nas letras da terra alencariana.
As duas agremiações terminaram efetivamente por fundir-se em 1951, graças aos esforços de Dolor Barreira, Clodoaldo Pinto e Joel Linhares, pela Academia Cearense de Letras; e de Henriqueta Galeno, Manoel Albano Amora e Perboyre e Silva, pela Academia de Letras do Ceará, com o que eram, finalmente, atendidos os apelos feitos, de longe, por Martins d'Alvarez e por Mário Linhares. Nessa ocasião, Dolor Barreira foi eleito, por aclamação, Presidente da Academia Cearense de Letras, denominação vitoriosa para o cenáculo.
A verdade é que não seria possível homenagear, em apenas quarenta cadeiras, todos os grandes vultos da cultura cearense. Na Academia, porém, através de palestras em suas sessões ou em cursos especiais, ou nas páginas de sua revista, têm sido homenageadas inúmeras figuras do passado e do presente, que hajam contribuído para o enriquecimento intelectual de nossa terra.
Anualmente, a Academia concede o Prêmio Osmundo Pontes e, desde 2005, os prêmios Antônio Martins Filho e Fran Martins, para jovens escritores. Sua atual sede fica no Palácio da Luz, a antiga sede do Governo do Ceará, um importante prédio, que faz parte do conjunto arquitetônico da Praça dos Leões, em Fortaleza.
A Academia Cearense de Letras tem como Presidente de Honra, Artur Eduardo Benevides. Seu Presidente é o escritor José Murilo Martins, e, com orgulho, cito minha mãe Beatriz Alcântara e meu pai Lúcio Alcântara, como ocupantes das cadeiras 16 e 26, respectivamente.
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