A gravidez na adolescência nem sempre é indesejada.
Segundo a pesquisa Juventude e políticas sociais no Brasil, organizada por Jorge Abrahão de Castro e Luseni Aquino, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para jovens de baixa renda, a maternidade muitas vezes é planejada e costuma estar associada à construção de uma identidade adulta.
Os pesquisadores destacam, porém, que esta opção costuma estar relacionada à falta de perspectivas profissionais para os mais pobres.
Apesar de estar em declínio em todas as classes sociais, 21% de todas as adolescentes do estrato social mais baixo (renda per capita de até meio salário mínimo) são mães, enquanto na faixa mais alta (a partir de cinco salários) não chega a 1%.
Batizado como síndrome de Juno, em referência ao filme ganhador do Oscar de roteiro original em 2008, o fenômeno também atinge os meninos, para os quais tornar-se pai significa virar homem.
Se de um lado a escolha de uma jovem em ser mãe, não pode ser de antemão criticada, por outro lado é fundamental que alternativas sejam apresentadas a esta jovem ao longo de sua vida, de modo que a maternidade não represente a única forma de auto-afirmação e construção de identidade, afirma o estudo.
A pesquisa compara dados da Pnad de 1996 e de 2006, constatando que a gravidez entre adolescentes com idade entre 15 e 19 anos, caiu de 12,6% para 11,4%. Os autores atribuem a queda tanto à maior liberdade sexual na década de 90, quanto às campanhas de esclarecimento contra doenças sexualmente transmissíveis e saúde reprodutiva voltadas para este público, lançadas a partir do ano 2000.
Apesar de registrar que o acesso à informação, aos serviços de saúde e aos métodos contraceptivos tenham contribuído para a queda, os autores não descartam o aborto.
A relação entre gravidez e escolaridade é diferente entre os rapazes e moças. Enquanto a maioria dos meninos já havia abandonado a escola ao ter tido um filho, o nascimento da criança é sinônimo de evasão escolar para as meninas. Apenas 6% das que têm entre 10 e 17 anos e não têm filhos estão fora da escola. Entre as que são mães o percentual sobe para 76,4%.
Em relação à contracepção, a pesquisa mostra que as meninas vivem um dilema. Por um lado, cabe a elas se preocupar em evitar a gravidez, por outro, aquelas que carregam preservativos são avaliadas negativamente pelos meninos.
Segundo os autores do trabalho, as políticas de saúde pública para este grupo avançaram desde 2005, com o lançamento da Política Nacional de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, e com a distribuição da pílula do dia seguinte, a partir de 2006.
O estudo elogia o projeto Saúde e Prevenção nas Escolas, mas critica o fato de não abranger os rapazes em idade reprodutiva, que normalmente já abandonaram a escola. A pesquisa também critica os profissionais de saúde que adotam uma abordagem adultocêntrica.
domingo, 25 de maio de 2008
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