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Natural de Aracati, no Ceará, muda-se em 1880 para o Rio de Janeiro, onde ingressa, aos 16 anos, na Escola de Marinha. Lá, protagoniza um episódio que se tornaria famoso: perante ninguém menos do que o Imperador Pedro II, faz um eloqüente discurso em favor da Abolição e da República, iniciativa que quase o leva à expulsão, não fosse a benevolência do próprio monarca, que por ele intercede.
Guarda-marinho, parte em 1886, no cruzador Almirante Barroso, em viagem de instrução aos Estados Unidos. A experiência teve como fruto o livro No país dos ianques, publicado em 1894.
Em Fortaleza, para onde é transferido, envolve-se com a esposa de um militar, escândalo que acaba por lhe render o afastamento da Marinha. Com problemas financeiros, muda-se para o Rio, onde virá a morrer de tuberculose em 1897, com 30 anos incompletos.
Na rápida, mas relevante obra literária de Adolfo Caminha, destacam-se dois grandes romances: A normalista, lançado em 1893, e Bom-crioulo, cuja primeira edição é de 1895 — este, uma das culminâncias do naturalismo brasileiro, pela crueza do tema e pela ousadia da relação entre os dois marinheiros protagonistas da história.
Além desses volumes, publicou também a poesia de Vôos incertos, os contos de Judite e lágrimas de um crente e os textos críticos das Cartas literárias, a que a imprensa já dera divulgação.
Em 1892, meses antes da transferência para o Rio de Janeiro, participa Adolfo Caminha da fundação, em Fortaleza, da Padaria Espiritual, uma das mais criativas e originais associações de escritores na história da literatura brasileira. Os membros denominavam-se padeiros, a sede se chamava forno, e o jornal que escreviam, O pão.
Para o crítico literário Sânzio de Azevedo, foi a Padaria cearense uma precursora do Modernismo, movimento que só se realizaria três décadas à frente, com a Semana de Arte Moderna, em 1922.
O programa de atuação da Padaria Espiritual, assim que divulgado, foi transcrito e comentado por vários jornais do País, em razão da inteligência e do bom humor que o caracterizam. Patenteia-se, logo ali, o espírito chistoso e provocante da agremiação, como denota, por exemplo, o art. 26, que estabelece: São considerados, desde já, inimigos naturais dos Padeiros o clero, os alfaiates e a polícia. Nenhum Padeiro deve perder ocasião de patentear o seu desagrado a essa gente.
Iconoclastas e brilhantes, criativos e irreverentes, os padeiros agitaram o fim do século XIX cearense, com atitudes e conceitos que somente se repetiriam muito anos depois, pela turma paulista de Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Transcorrido mais de um século, continua a Padaria Espiritual um dos mais originais e interessantes movimentos da nossa história literária, como uma autêntica revolução pré-modernista, que agitou a literatura brasileira, segundo as palavras do professor Sânzio de Azevedo.
Entre os seus jovens membros, destacava-se Adolfo Caminha, de quem ficou a lembrança de um homem destemido, que afrontava os ocupantes do poder e a sociedade preconceituosa que o repelia.
A Adolfo Caminha, a minha homenagem e o meu respeito, pela obra que, ao pé do forno daquela original Padaria, soube transformar o pão que alimenta o espírito.
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