quarta-feira, 26 de março de 2008

Novo Morador

A partir da próxima sexta-feira, 28, o Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ganha um novo e ilustre morador.

Descoberto por acaso, há cerca de cinco anos, durante trabalho de campo realizado na região de Mina Poty, em Pernambuco, o Guarinisuchus munizi, nova espécie de crocodiliforme marinho, que viveu na Terra há 62 milhões de anos, passa a integrar o rico acervo da Instituição.

Com mandíbula, crânio e vértebras, o fóssil do crocodilo pré-histórico, de cerca de três metros de comprimento, é o mais completo exemplar do grupo Dyrosauridae, que viveu durante o Paleoceno e resistiu ao fenômeno que extinguiu os grandes dinossauros do planeta, já descoberto na América do Sul.

De focinho bastante alongado, dentes compridos e cauda espalmada, totalmente adaptada para a vida livre no mar, o Guarinisuchus munizi foi identificado graças a uma parceria entre o Setor de Paleovertebrados do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), no Ceará.

Em conjunto, pesquisadores desses três centros analisaram o material coletado nas rochas da Formação Maria Farinha, na Bacia Costeira da Paraíba (formação sedimentar que se estende até Pernambuco), e traçaram comparações com exemplares semelhantes, previamente encontrados na África e na América do Norte. Tais correlações permitiram que os pesquisadores elaborassem uma nova teoria sobre as rotas de dispersão deste grupo de animais.

O estudo sugere que a origem dos dirossaurídeos se deu na África, disse o paleontólogo José Antonio Barbosa, pesquisador visitante do Departamento de Geologia da UFPE, que foi quem achou, em 2003, os primeiros fragmentos de dentes e ossos da nova espécie.

Segundo Maria Somália Sales Viana, pesquisadora da UVA, que também assina o estudo, o estabelecimento de parentescos entre a espécie descoberta no Brasil e outras mais primitivas, achadas na África, e mais derivadas, identificadas na América do Norte, possibilitou que se traçasse a nova teoria sobre a evolução deste grupo no planeta.

De acordo com a idade estimada dos fósseis, os pesquisadores acreditam que o deslocamento do grupo aconteceu pouco após a extinção dos grandes dinossauros, e, muito possivelmente, favorecido por ela.

Para Alexander Kellner, paleontólogo do Museu Nacional, a migração transatlântica dos crocodiliformes marinhos teria tido como forte motivação o desaparecimento de um grupo de lagartos marinhos, chamados de mosassauros, que dominavam estes mesmos mares durante o Período Cretáceo.

A pesquisa, que foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RJ(Faperj) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq), foi publicada em recente artigo da Proceedings of the Royal Society.

Para a professora Maria Somália, além da importância científica indiscutível, a descoberta presta, ainda, uma justa homenagem a um pesquisador atualmente aposentado que, na ativa, deu uma grande contribuição para a paleontologia brasileira.

Guarini vem do Tupi e significa guerreiro. Já a denominação da espécie, munizi, é uma homenagem a Geraldo da Costa Barro Muniz, paleontólogo de grande destaque no cenário nacional, explicou a pesquisadora.

Nenhum comentário: