domingo, 16 de novembro de 2008

A Grandeza de Nossos Atletas

Pensando nos resultados alcançados pelo Brasil nas Olimpíadas de Pequim, neste ano de 2008, venho fazer um alerta sobre a importância do País insistir nas políticas públicas de esporte, encontrando soluções para melhorar o desempenho dos nossos atletas em ambientes de alta competitividade.

Ao final, foram 15 medalhas, número equivalente a um sexto do total conquistado por brasileiros em todas as edições dos jogos, desde 1920. Além disso, disputamos 38 finais e ficamos em primeiro lugar no ranking da América Latina.

Não há dúvida de que esse é um bom resultado, mas há de se ter claro que ele está muito aquém das nossas possibilidades e das expectativas que desenvolvemos, especialmente depois do desempenho alcançado em Atenas. Naquela ocasião, conquistamos quatro medalhas de ouro e ficamos em 16º lugar na listagem final; em Pequim, foram apenas três ouros e um modesto 23º lugar. Ficou a sensação de que não fizemos o que podíamos ter feito. Esperava-se mais, especialmente em função do tamanho da nossa delegação, com 277 atletas.

Merece atenção também o resultado final das Paraolimpíadas, obtido pela delegação brasileira. Na competição para atletas com deficiência física, os países mais pobres tiveram resultados bem mais expressivos, incluindo o Brasil, que ficou em nono no quadro final de medalhas. Com recorde de atletas (188 contra 89 de Atenas/2004), o Brasil conquistou 47 pódios, correspondendo a 16 medalhas de ouro, 14 de prata e 17 de bronze. Em relação a 2004 em Atenas, até então a melhor participação brasileira na competição, houve uma melhora na quantidade de medalhas (47 contra 33), inclusive de ouro (16 contra 14). Em Pequim, também foi maior o número de modalidades em que o País conquistou medalhas: natação, atletismo, judô, bocha, hipismo, remo, tênis de mesa e futebol de 5.

Além das verbas da Lei Piva, o Comitê Paraolímpico Brasileiro contou com o patrocínio da Caixa Econômica Federal (CEF) para se preparar para Pequim-2008. Para 2004, o Comitê contou com cerca de R$ 22 milhões de repasse da Lei Piva, mais R$ 1 milhão da Caixa, cujo contrato teve início naquele ano. O volume investido para a Paraolimpíada de Pequim subiu para cerca de R$ 57 milhões (R$ 44,8 milhões da Lei Piva e R$ 12 milhões do patrocínio), até junho do ano passado. Com esse dinheiro, foi montado um programa de alto rendimento, com 16 atletas e três guias.

Impõe-se, com efeito, enaltecer o papel inclusivo do esporte e, em particular, dos jogos paraolímpicos. Sem dúvida, devemos prestar crescente apoio aos esforços empreendidos a favor da inclusão de cidadãos portadores de deficiência, que constitui um dos mais importantes compromissos para o Brasil, hoje, tendo em vista as necessidades dos 24,6 milhões de pessoas com algum tipo de incapacidade ou deficiência, ou seja, 14,5% da população total do País, de acordo com dados do Censo 2000.

Voltando, no entanto, à discussão acerca dos resultados do Brasil nas Olimpíadas, esperava-se mais também em decorrência das políticas e projetos implementados pelo Ministério do Esporte nesses últimos anos. Afinal, houve uma mudança de perspectiva substancial nas políticas do Ministério.

Todas as ações desenvolvidas atualmente partem do princípio que num País como o Brasil, o esporte deve ser mais um instrumento na resolução da questão social, articulando-se com setores fundamentais da atividade estatal: educação, saúde e política alimentar.

Julgo oportuno ressaltar algumas dessas ações. Por exemplo, o programa Esporte e Lazer da Cidade, que integra 14 ações, relacionadas e agrupadas em dois conjuntos. O primeiro, busca consolidar o esporte e o lazer como direitos sociais, ou seja, garantir o acesso a toda a população. Em especial, o programa visa suprir a carência de políticas públicas e sociais que atendam às crescentes demandas por esporte recreativo e lazer, sobretudo das populações em situação de vulnerabilidade social e econômica.

De outra parte, o segundo conjunto de ações está direcionado ao desenvolvimento científico e tecnológico do esporte e do lazer; à configuração de um sistema nacional de documentação e informação esportiva; e à viabilização de acordos de cooperação e intercâmbio institucionais e internacionais, num evidente compromisso com a gestão pública participativa e democrática.
Cumpre assinalar, no âmbito desse projeto, a rede composta por centros de desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica na área do esporte, treinamento e aperfeiçoamento de atletas.

Valendo-se das estruturas físicas e administrativas e dos recursos humanos e materiais existentes nas Instituições de Ensino Superior, os Centros de Excelência Esportiva têm como objetivo detectar, selecionar e desenvolver talentos esportivos, especialmente nas modalidades olímpicas e paraolímpicas. Hoje, há nove centros implantados, em oito estados de quatro regiões brasileiras, e a perspectiva é de que o número se amplie.

Outra ação substancial é o programa Bolsa-Atleta, destinado a garantir manutenção pessoal mínima aos atletas de alto rendimento, que não possuem patrocínio. Em 2007, 2.171 atletas foram contemplados, sendo 73 deles participantes das Paraolimpíadas de Pequim. O Bolsa-Atleta investe prioritariamente nos esportes olímpicos e paraolímpicos, com o objetivo de formar, manter e renovar periodicamente gerações de atletas com potencial para representar o País nas competições internacionais.

Além disso, merecem louvor as iniciativas de promover a ressocialização de internos do sistema penitenciário, com o programa Pintando a Liberdade, e de envolver pessoas em situação de vulnerabilidade social, como acontece no programa Pintando a Cidadania. Ambos os projetos são voltados à produção de materiais esportivos para suprir as necessidades de programas do Ministério, de escolas públicas e entidades sociais de todo o Brasil e, em alguns casos, do exterior.

Com o envolvimento de 12.700 detentos e de cerca de 1.900 pessoas em situação de risco, a produção já atingiu sete milhões de itens, entre os quais se distinguem as bolas com guizo, desenvolvidas para o uso nos jogos de futebol de cinco, modalidade paraolímpica praticada por cegos e deficientes visuais. As bolas brasileiras, únicas a serem aceitas em competições esportivas oficiais em todo o mundo, com presença inclusive nas Paraolimpíadas de Pequim, como símbolo das potencialidades deste País.

Os resultados alcançados em Atenas e em Pequim, se analisados de modo acurado, indicam que o Brasil caminha no rumo certo e que vale a pena insistir nas políticas públicas de esporte, especialmente se elas são estruturantes, como é o caso dos exemplos citados.

Entretanto, os resultados de Pequim trazem a urgência de se pensar: o que falta, para que nossos atletas alcancem os resultados esperados e possíveis? Que outras ações precisam ser desenvolvidas?

Há de se debater sobre isso, para que as soluções sejam encontradas. Algumas, no entanto, já são evidentes e consensuais.

No caso dos esportes de alto rendimento, falta uma equipe setorizada, que envolva vários profissionais, entre os quais um psicólogo, cuja função há de ser a promoção da auto-estima e da auto-confiança, para que os nossos atletas não sintam o peso dos ambientes de alta competitividade, como vimos acontecer recentemente, por exemplo, com João Derly, Jade Barbosa e Jadel Gregório, entre tantos outros. E, também, para que, diante do fracasso, que pode acontecer, não se sintam culpados, o que vimos expresso nos pedidos de desculpas de tantos, inclusive do sempre seguro Diego Hipólito.

Faltam, certamente, mais investimentos, sobretudo em determinados esportes, e a maior evidência disso foi a equipe de futebol feminino, que só perdeu o ouro por falta de condicionamento físico, numa situação lamentável e paradoxal, com relação à equipe masculina.

Faltam, também, maiores esclarecimentos da população sobre a Lei do Esporte. Sancionada em dezembro de 2006, ela permite que patrocínios e doações para a realização de projetos desportivos educacionais, de lazer, de alto rendimento e paradesportivos sejam descontados do Imposto de Renda devido por pessoas físicas e jurídicas, na proporção de até 6% para pessoas físicas e de até 1% para pessoas jurídicas (tributadas com base no lucro real).

Informar a população sobre essas possibilidades pode aumentar os investimentos de modo substancial.

Falta, acima de tudo, promover a valorização do profissional de Educação Física, elemento indispensável em qualquer dessas ações e em qualquer outra que se pretenda desenvolver. Do seu envolvimento, do seu empenho, da sua capacitação e do seu bem-estar dependem os resultados finais, não há dúvida.

Reitero, por fim, o valor das lições proporcionadas e apreendidas a partir das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2008, enaltecendo a importância do esporte como fator de desenvolvimento e inclusão, com atenção, especialmente, também em relação aos portadores de deficiência.

Esses são alguns pontos, mas, como disse, o debate há de ser intenso, célere e comprometido, em busca de resultados ainda melhores e para que, em Londres, o Brasil assuma o lugar de relevo que merece no cenário internacional, também na esfera esportiva. Um lugar compatível com sua extensão territorial, com sua população e, principalmente, com a grandeza de sua gente.

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