segunda-feira, 7 de abril de 2008

Saltinho

Enquanto a taxa média de desocupação no País é de 9%, o Brasil tem cidades com desemprego zero, graças ao trabalho de empreendedores locais, formais e informais.

Ao menos seis municípios fazem parte desse País que contraria os dados oficiais de emprego.

Saltinho, situado a 180 Km da cidade de São Paulo, próximo a Piracicaba, é um desses eldorados do trabalho. Com quase sete mil habitantes e organizando sua economia em torno da indústria de cana-de-açúcar e das confecções, a pequena cidade desconhece os problemas de um mercado de trabalho carente de vagas. Saltinho cresce 9% ao ano.

A atividade econômica do Município se baseia na agroindústria sucroalcooleira. 90% das pequenas e médias fábricas são de metalurgia voltada para o ciclo de produção de cana-de-açúcar. Respondem por cerca de 800 postos de trabalho, garantindo rendimentos médios de R$ 1.041,16.

Em meio à burocracia que dificulta a abertura de empresas formais, surgiram as confecções, escondidas em garagens e cômodos das casas do Município.

Fazendo as contas, são mais de 800 pessoas, especialmente mulheres, que trabalham por conta própria para fábricas de fora da cidade, praticamente o mesmo número de empregados nas indústrias formais.

Apesar de contrariado com a informalidade do Município, autoridades municipais comemoram o fato de o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Saltinho, calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), estar entre os mais altos do País. Saiu de 0,781, em 1991, para 0,851 em 2000 (último dado municipal), estando acima dos IDHs do Brasil de 2005 (0,800), de países como México, Romênia e Arábia Saudita, e empatando com o da Letônia (0,855).

Em Saltinho, todas as crianças estão na escola. O Município também oferece atividades esportivas e aula de música para a garotada. Além de dança para a Terceira Idade. A um custo zero, como o desemprego.

Segundo o Diretor do Sebrae Nacional, Luiz Carlos Barboza, cerca de 30 cidades devem integrar esse Brasil fora das estatísticas, podendo haver uma por estado.

Já o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), José César Castanhar, especialista em empreendedorismo em pequenos municípios, considera que outros municípios podem seguir esse caminho. Ele afirma que, se essas cidades se estruturaram em condições econômicas adversas, imagine com a classe baixa tendo ganho de renda, os indicadores macroeconômicos favoráveis, a perspectiva de carga tributária menor e o País mais integrado globalmente.

Vi esta matéria no Globo Digital, 7/4/2008.

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