O Dia da Árvore é, provavelmente, a mais antiga data comemorativa relacionada ao meio ambiente no Brasil. Se agora já ninguém o assinala com o tom romântico do passado, porque os problemas nessa área são reais e urgentes, constitui, ainda assim, uma boa ocasião para que se trate de um assunto que diz respeito a todos nós e à continuidade da vida na Terra.
Na Europa e nos Estados Unidos, há registros de dia e festa dedicados à árvore desde o século 19. No Brasil, a primazia coube à cidade de Araras, no Estado de São Paulo, onde em 1902, sucedendo a criação de um bosque, foi instituída, por lei municipal, a Festa das Árvores.
A tradição acabou por fazer de 21 de setembro o Dia da Árvore, prenunciando a primavera; nem o decreto presidencial que, em 1965, criou uma festa nacional anual, com duração prevista de uma semana, teve força para se sobrepor à escolha popular – manteve-se o dia comemorativo, pois a idéia da festa mais demorada não pegou.
E há algo para festejar nesse dia? – é a pergunta quase obrigatória a fazer neste momento. Sem pretender fugir à resposta, ela pode ser sim ou não.
Sim, se olharmos para o muito que o Brasil cresceu em consciência ecológica desde que aquela comemoração pioneira foi realizada. Não, se pensarmos nas grandes ameaças que pairam sobre o País e o mundo, em consequência do uso irracional dos recursos naturais.
Muitos anos depois da festa de Araras, já em 1975, na cidade de Porto Alegre, um estudante subiu numa tipuana e passou quase o dia inteiro recusando-se a descer, para evitar que a árvore fosse cortada. Uma multidão logo se reuniu em torno do jovem. Ao final do protesto, ele ainda teve de prestar esclarecimentos à polícia política do regime autoritário, mas seu gesto deu certo: a tipuana não foi cortada e, principalmente, difundiu-se, a partir dali, uma nova consciência sobre a proteção à natureza.
Na mesma Porto Alegre, um dos grandes ecologistas brasileiros, José Lutzenberger, passou a chamar a atenção como presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, e, em pouco tempo, sua pregação se espalhou pelo País.
Em São Paulo, o professor Paulo Nogueira Neto ganhou destaque por sua luta conservacionista, a tal ponto que foi convidado pelo governo federal a criar e dirigir a Secretaria Especial do Meio Ambiente. Permaneceu mais de 12 anos no cargo, conseguindo aprovar diversas leis ambientais e criar 26 estações e reservas ecológicas.
Desde 1992, temos um Ministério do Meio Ambiente, que enfrenta grandes dificuldades, é verdade, mas também registra conquistas importantes. Em julho, por exemplo, houve uma queda de 56% no desmatamento da Amazônia, em relação à média desse mês entre os anos de 2004 e 2008.
Por tudo isso seria possível dizer que sim, há o que festejar no Dia da Árvore.
Porém, o desmatamento na Amazônia, mesmo contido, ainda é um terrível problema. De agosto de 2008 a julho de 2009, ultrapassou 4.300 quilômetros quadrados. Ou seja, apesar da redução, e da perspectiva de que chegaremos ao final de 2009 com o menor desmatamento dos últimos 21 anos, ainda se tira muito madeira da região amazônica, como admite o próprio ministro Carlos Minc.
Por todo o País, tragédias consideradas “desastres naturais” – tempestades, secas, enchentes – cada vez mais parecem, na verdade, uma dura resposta da natureza à devastação intensa e continuada que tem sofrido.
No mundo, apesar da urgência requerida pelo risco iminente do aquecimento global, a convergência sobre os rumos a seguir é sempre difícil, e há quem tema até pelo fracasso da Conferência sobre Mudança do Clima programada pela ONU para dezembro, em Copenhagen.
Olhando para tantos problemas, poderíamos dizer, então, que nada há a comemorar.
Entretanto, creio que é mais correto reconhecer tantos os avanços como os erros que continuam sendo cometidos.
Avançamos, no Brasil e no mundo, em consciência ambiental, em pesquisa sobre os efeitos da ação do homem na natureza, em legislação. Falta ainda, com certeza, levar todos esses conhecimentos à prática, buscar resultados efetivos, conseguir que o desenvolvimento sustentável deixe de ser uma bandeira de poucos e passe a ser reconhecido como único caminho possível para a humanidade.
Enquanto isso, prestemos, no 21 de setembro, nossa homenagem à árvore, essa dádiva da natureza, que precisamos sempre preservar.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
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