Registro aqui uma breve homenagem a Raquel de Queiroz, um dos maiores nomes da literatura nacional e que se consagrou como a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras.
A eleição ocorreu no dia 4 de agosto de 1977, trinta e dois anos atrás, vindo confirmar a força e o talento de uma cearense que deixou grande exemplo de coragem, coerência e humanismo em nosso País.
Na Academia, ocupou a Cadeira nº 5, fundada por Raimundo Correia e ocupada por Bernardo Guimarães, Osvaldo Cruz, Aloísio de Castro, Cândido Mota Filho, e, atualmente, por José Murilo de Carvalho.
Raquel de Queiroz deixou como legado uma obra literária que soube captar com maestria a vida e a alma nordestinas, descrevendo com pungente realismo a luta pela sobrevivência de populações submetidas a privações econômicas extremas.
O retrato da seca que pintou em O Quinze foi a um só tempo uma obra-prima das letras e um poderoso manifesto em defesa da dignidade e da solidariedade humana. Depois do que ela escreveu, já não seria possível ignorar a fome e a miséria presentes nos lares de tantos brasileiros.
O corpo principal da obra de Raquel de Queiroz está composto dos romances O Quinze (1930), João Miguel (1932), Caminho das Pedras (1937), As Três Marias (1939), Dôra, Doralina (1975), O Galo de Ouro (1985) e Memorial de Maria Moura (1992), além de livros infanto-juvenis, de peças para teatro e de extensa produção de crônicas, publicadas em diversos jornais e revistas de circulação regional e nacional.
Raquel de Queiroz faleceu em novembro de 2003, com quase 93 anos, e explorou todas as possibilidades estéticas e existenciais que estavam a seu alcance. Foi pioneira nas artes, na política e na vida pessoal, e obteve amplo reconhecimento por sua obra, manifesto tanto no sucesso de público quanto na admiração da crítica.
Entre os diversos prêmios que recebeu destacam-se: melhor romance, pela Fundação Graça Aranha, em 1931; Prêmio Saci, por montagem teatral, em 1953; Prêmios Camões e Juca Pato, igualmente em 1953, e o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 1957.
Raquel de Queiroz recusou o convite feito pelo Presidente Jânio Quadros para o Ministério da Educação. Em 1966, foi nomeada delegada do Brasil na 21ª Sessão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, junto à Comissão dos Direitos do Homem. Em 1967, passou a integrar o Conselho Federal de Cultura, onde ficaria até 1985.
Em 1996 recebeu o Prêmio Moinho Santista, pelo conjunto da obra, e em 2000 recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Em 1994, a Rede Globo de Televisão levou ao ar a minissérie Memorial de Maria Moura, numa bem-sucedida adaptação do romance com o mesmo título.
Mas se dermos demasiada ênfase às honrarias que lhe foram concedidas, não faremos justiça à simplicidade e à elegância com que Raquel de Queiroz escreveu e protagonizou os êxitos e desafios ao longo da vida. Ela foi, acima de tudo, um exemplo de humanidade e de profunda conexão com as pessoas e os ambientes à sua volta, no Ceará, no Rio de Janeiro ou onde quer que estivesse.
Assim sendo, quando exaltamos o pioneirismo e a coragem da escritora de vanguarda, não podemos perder de vista que seu exemplo foi o de uma mulher que conseguiu produzir a tão almejada síntese entre o sucesso profissional e as realizações de mãe, amiga, filha, esposa e companheira leal dos que, como ela, alinharam-se na trincheira do humanismo.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário