Uma contumaz vigilante, uma verdadeira militante social. Assim foi a antropóloga Ruth Corrêa Leite Cardoso, nascida em 19 de setembro de 1930, na cidade de Araraquara, no Estado de São Paulo, que faleceu há pouco, aos setenta e sete anos, na cidade de São Paulo.
Como docente e pesquisadora, construiu uma longa carreira acadêmica, dedicando-se especialmente a estudos de gênero e aculturação.
Defendeu seu mestrado no ano de 1970, com a tese O Papel das Associações Juvenis na Aculturação dos Japoneses. O doutorado, em 1972, trouxe o trabalho Estrutura Familiar e Mobilidade Social: Estudo dos Japoneses no Estado de São Paulo. Na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos da América (EUA), concluiu seu pós-doutoramento.
Atuou na Universidade de São Paulo (USP), Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso/Unesco), Universidade do Chile (Santiago do Chile), Maison des Sciences de L'Homme (Paris), Universidade de Berkeley (Califórnia) e Universidade de Columbia (Nova York).
Entre as principais atividades acadêmicas desenvolvidas pela doutora em antropologia Ruth Cardoso, estavam a coordenação do curso de pós-graduação na área de Ciências Politicas, da USP, de 1975 a 1978; e a organização de seminários de pesquisa e cursos no programa de pós-graduação em Ciências Políticas, de 1986 a 1990.
No exterior, foi membro associada do Center for Latin American Studies, na University of Cambridge (Inglaterra, 1977) e professora associada na Maison des Sciences de L'Homme (Paris, 1977), tendo, também, lecionado na Universidade do Chile, de 1965 a 1967. Fez parte do Centro para Estudos Latino-Americanos da Universidade de Cambridge (Inglaterra) e membro da equipe de pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap - São Paulo).
Casada há 55 anos com Fernando Henrique Cardoso, ex-Presidente do Brasil por dois mandatos, entre 1995 e 2002, Ruth Cardoso transformou o modo brasileiro de se fazer ação social no País.
Data desse período o fim da Legião Brasileira de Assistência (LBA). Daí, fundou e presidiu o Comunidade Solidária, atual Comunitas, criada por ela, no ano de 2000, para garantir a continuidade dos programas gerados pelo Comunidade Solidária. A organização Comunitas é responsável por programas sociais e de voluntariado. Seu foco é o fortalecimento da sociedade civil e a promoção do desenvolvimento social no Brasil.
Também durante o mandato de Fernado Henrique Cardoso, a professora Ruth foi membro fundadora da Alfabetização Solidária, organização que combate o analfabetismo no País. O programa chegou a alfabetizar mais de 2,5 milhões de jovens nos municípios brasileiros mais pobres.
Entre os programas sociais desenvolvidos por Ruth Cardoso estavam o Universidade Solidária, que mobilizava estudantes e professores universitários para ações de desenvolvimento social, e o Capacitação Solidária, que treinou mais de 100.000 jovens para o mercado de trabalho nas grandes regiões metropolitanas. Foi uma das mentoras do Bolsa-Escola, mais tarde unificado com outros programas federais, dando origem ao atual Bolsa-Família.
Findado o tempo oficial de sua participação no Governo do Brasil, ao deixar Brasília, reforçou sua bandeira: Quero manter as brigas que comecei, disse, então, a professora Ruth.
Parafraseando Machado de Assis, a professora Ruth estará, agora, preparando-se para estudar a geologia dos campos-santos.
terça-feira, 24 de junho de 2008
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