Hoje, dia 6 de maio, assinala o aniversário de nascimento de um dos pioneiros do sanitarismo no Brasil.
Refiro-me a Rodolfo Teófilo, que no início do século 20 travou uma formidável luta contra a disseminação da varíola, conseguindo evitar milhares de mortes no Ceará e que se notabilizou também como emérito escritor, industrial, divulgador científico e defensor do abolicionismo.
Rodolfo Marcos Teófilo nasceu na Bahia, em 1853, mas bem cedo foi levado para Fortaleza e com justiça é considerado por todos um grande cearense. Órfão aos 11 anos, chegou a ter de abandonar temporariamente os estudos para trabalhar no comércio. Retomou-os, porém, e obteve aprovação para fazer o curso superior na Bahia, onde, aos 22 anos, graduou-se em Farmácia.
À época do nascimento de Teófilo, seu pai, que era médico, estava envolvido no combate à febre amarela. Algum tempo depois, ainda menino, ele acompanhou as notícias sobre a epidemia de cólera que matou quase um terço dos seis mil habitantes de Maranguape, em 1862; e, já formado, viu a varíola vitimar um quinto da população de Fortaleza, em 1878.
Convencido de que só com imunização seria possível vencer essas doenças, Teófilo esbarrou no desinteresse e até na oposição do poder público e de uma parcela da sociedade. Aprendeu, então, a fabricar a vacina contra a varíola, e, a partir de 1901, ajudado apenas por sua mulher e um criado, saiu a aplicá-la nos moradores de Fortaleza, batendo de casa em casa, bairro por bairro. Às vezes, a resistência era tão grande que ele chegava a pagar aos que aceitassem a vacinação.
Assim foram imunizadas quase duas mil pessoas, com resultados extraordinários: no ano seguinte, não houve um único caso de morte por varíola em Fortaleza, a comprovar que Teófilo tinha razão. Isso lhe valeu o apoio de voluntários na Liga Cearense contra a Varíola, permitindo levar a campanha ao interior do Estado, embora não o livrasse de manifestações de desconfiança e até de insultos divulgados pela imprensa.
A par dessa ação memorável contra uma doença terrível e os preconceitos de uma parte da população, Rodolfo Téofilo mantinha uma surpreendente atividade em diversas outras áreas.
Como escritor, publicou quase trinta livros, ora relatando os momentos difíceis da campanha de vacinação, ora analisando a tragédia da seca nordestina, ou, ainda, enveredando, com rara habilidade, pela ficção. Integrou a Padaria Espiritual, uma associação literária caracterizada pelo comportamento irreverente, a Academia Cearense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Ao lado da esposa, Teófilo participou também da luta abolicionista, fazendo parte da Sociedade Libertadora Cearense. E, como se sabe, graças à atuação de idealistas como ele, a província do Ceará foi a primeira no Brasil a abolir a escravidão.
Rodolfo Teófilo morreu em Fortaleza, em dois de julho de 1932. No ano de 2003, poetas e escritores do município de Maracanaú iniciaram um movimento pela restauração da casa onde ele morou, com a posterior transformação em espaço cultural. Em 2005, a casa foi reformada, mas sua efetiva utilização com finalidades culturais, em caráter permanente, ainda não se processou.
Rodolfo Teófilo é um exemplo para as atuais e as futuras gerações, pela disposição de enfrentar todas as adversidades em favor do bem público; pela qualidade de sua obra literária; pela denúncia dos efeitos da seca e da doença no Nordeste; pelo engajamento no abolicionismo.
Registro, por isso, o transcurso dos 157 anos de seu nascimento, como forma, também, de dar mais divulgação a uma vida e a uma obra tão importantes.
O Ceará e o Brasil devem muito a Rodolfo Teófilo.
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