A CONFERÊNCIA de cúpula do G20 parece destinada a realizar progressos. Mas suas realizações precisam ser medidas não apenas diante do desempenho do passado, mas com relação à "feroz urgência do agora". E, infelizmente, não serão suficientes.
A OCDE prevê agora contração de 4,3% nas economias dos países avançados neste ano, seguida por estagnação em 2010. Nos países avançados que a integram, o desemprego pode subir em 25 milhões de pessoas até 2010. Enquanto isso, o FMI prevê que a economia mundial se contrairá neste ano entre 0,5% e 1%. Isso representaria uma elevação de cerca de 4% na "diferença de produção", a diferença entre o potencial produtivo e a produção efetiva.
Será que o G20 se provará capaz de enfrentar esses excepcionais desafios? A resposta é não. O que é necessário é uma grande ampliação na demanda e uma virada em sua distribuição, dos países cronicamente deficitários para os superavitários. Em ambos os pontos, o progresso será muito limitado.
A OCDE argumenta que as medidas de estímulo adotadas pelos governos em resposta à crise elevarão o PIB desses países em média por só 0,5%, em 2009 e 2010. Além disso, a demanda adicional está surgindo pelo menos em igual medida nos países deficitários e superavitários. Isso não é receita para uma solução dos desequilíbrios mundiais, mas sim para seu prolongamento indefinido.
Infelizmente, não há consenso sobre as causas subjacentes da crise ou as melhores maneiras de escapar dela. EUA e Reino Unido concordam que os excessos financeiros tiveram origem não na desregulamentação e sim no imenso excedente de oferta dos países superavitários, principalmente China, Alemanha e Japão. Mas a China e europeus liderados pela Alemanha argumentam que a culpa cabe integralmente aos perdulários países deficitários. No entanto, a China também espera que o mundo em breve possa voltar a absorver seu excesso de oferta.
Na entrevista do "Financial Times" com Angela Merkel, a chanceler alemã disse que "a economia alemã depende muito de exportações, e isso não é algo que se possa mudar em dois anos". Acrescentou ainda que "não é algo que desejemos mudar". Parafraseando: "O resto do mundo precisa encontrar uma maneira de absorver a nossa oferta excedente, mas de maneira sustentável, por favor". Mas o que acontece se isso não ocorrer? Em 2007, os China, Alemanha e Japão registraram um superávit agregado de US$ 835 bilhões em conta corrente. Logicamente, os países deficitários que lhes servem como contraparte precisam gastar mais do que ganham por igual montante. Mas os países deficitários já não podem captar recursos junto a credores voluntários com bom crédito.
Essa mudança é o aspecto central da crise. Os países superavitários, que dependiam do setor privado dos países deficitários para que realizasse por eles sua captação irresponsável, demonstram padrão muito diferente: o balanço em seu setor privado mudará pouco e, em todos os casos, continuará a exibir um grande superávit o tempo todo: grandes superávits em conta corrente quase sempre significam poupança excedente no setor privado. Mas, na medida em que seus superávits externos caiam, os déficits fiscais crescerão, em parte por decisão política deliberada mas também devido às consequências automáticas das recessões.
Assim, as posições fiscais estão se deteriorando, e os superávits e déficits em conta corrente estão minguando em toda parte, à medida que o setor privado dos países deficitários reduz dramaticamente os seus gastos. Mas a deterioração fiscal esperada é maior nos países deficitários do que nos superavitários. Com a exceção do Japão, os déficits fiscais também serão maiores nos países deficitários. O que essa análise nos revela é bastante simples: não está acontecendo quase nenhum ajuste nos desequilíbrios estruturais subjacentes. Não estamos no caminho para uma saída duradoura da crise.
Assim, o que resta a fazer? Esse deve ser o tema central do G20. A economia mundial não pode ser conduzida a um equilíbrio seguro por meio de medidas que encorajem número relativamente pequeno de países a gastar até falir. A resposta depende, em parte, de mudanças nas políticas dos países superavitários. Mas também em igual medida de repensar o sistema monetário internacional. Enquanto isso, a cúpula do G20 tratará em larga medida dos sintomas imediatos da doença. Encontrar uma cura de longo prazo para o excesso crônico de oferta mundial é tarefa que ficará para o futuro.
Martin Wolf
Jornal Folha de São Paulo
Quarta-feira, 1 de abril de 2009
Página B10 Dinheiro
quarta-feira, 1 de abril de 2009
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