terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Aids

Hoje, 1º. de dezembro, assinala-se o Dia Mundial de Prevenção contra a Aids e eu aproveito a oportunidade para registrar o importante avanço das pesquisas no mundo e o efetivo programa de combate brasileiro a esta grave epidemia, bem como o que ainda é necessário fazer para efetivamente protegermos nossa população contra a infecção pelo HIV.

A luta pelo acesso ao tratamento da Aids foi um marco na história da saúde no Brasil. Desde quando surgiram os primeiros casos da doença, no início da década de 80, até hoje, quando a descoberta de potentes medicamentos resultou no aumento significativo da expectativa de vida da população afetada, um longo caminho foi percorrido no sentido de universalizar o acesso ao tratamento da Aids no nosso País.

Os novos medicamentos antirretrovirais passaram a estar disponíveis no mundo todo em 1996, e no final desse mesmo ano o Brasil já oferecia esta terapia combinada de medicamentos na rede pública de saúde. Essa conquista foi fruto da intensa mobilização das organizações e dos indivíduos comprometidos com o combate à doença, que nunca aceitaram a tese de que o Brasil, por ser um país em desenvolvimento, deveria adotar somente ações de prevenção.

Em outros países onde esta justa reivindicação da sociedade não foi atendida, ainda há enorme dificuldade para promover o tratamento da doença. Hoje, graças em grande parte à experiência brasileira, existe um clamor generalizado no mundo em desenvolvimento em prol da ampliação do acesso ao tratamento antirretroviral e pela adoção da extensa gama de assistência de que os portadores do vírus necessitam.

Estamos entrando em uma etapa da evolução da epidemia em que muitas novas demandas surgem a cada dia, e ainda não conseguimos atendê-las de forma adequada no Brasil.

Antigamente, os pacientes infectados pela epidemia viviam de seis meses a um ano. Atualmente, graças à extraordinária evolução dos tratamentos, existem pacientes que vivem 20 anos, que vão atingir a terceira idade mesmo quando infectados muito cedo. Há crianças que se infectaram durante o parto e que estão chegando à adolescência, requerendo um atendimento especializado que ainda não é oferecido da forma adequada pela nossa rede pública de saúde.

Uma equipe que atende a um paciente com Aids hoje não pode mais pensar só na infecção oportunista e na terapia antirretroviral. A gravidade e a frequência com que os efeitos colaterais do tratamento ocorrem obrigam esses profissionais a terem um conhecimento muito maior sobre hipertensão arterial, diabetes, aumento das taxas de colesterol. Esse é um desafio grande para uma equipe que, durante anos, focou o seu trabalho exclusivamente em temas específicos relacionados à infecção por HIV.

Quando se fala em prevenção da doença, também temos muito o que avançar. Hoje, além dos 600 mil infectados já identificados no País, estima-se que existam 400 mil que sequer sabem que são portadores do HIV. É claro que as campanhas de massa são importantes, mas estudos que avaliaram as ações de prevenção mostram claramente que elas são mais eficazes quando direcionadas para pessoas que conhecem sua situação sorológica. Nenhum programa de prevenção será bem-sucedido se não identificar estas pessoas, para que possam ser informadas e tratadas.

Como o grau de estigma da Aids ainda é muito grande, as pessoas não fazem o teste e não conversam sobre a doença, dificultando a implementação de ações efetivas de prevenção. Uma das maneiras de alterar este quadro é adotar como procedimento padrão a avaliação, pelos médicos, em geral, do risco de infecção para o HIV. O ideal é que todos os prontuários contenham informações sobre exposição em potencial e uso do preservativo, mas isso praticamente inexiste fora dos ambulatórios específicos para os portadores da doença.

É importante que os responsáveis pelo combate à Aids saibam que ter disponibilidade de remédios e treinar pessoal especializado não são suficientes para prevenir de maneira eficaz a epidemia. A transmissão do HIV de uma mãe infectada para seu filho, por exemplo, só será evitada se houver uma rede capaz de oferecer um pré-natal de qualidade nas maternidades, que possibilite uma intervenção precoce.

Esse exemplo deixa claro que não vamos avançar com ações voltadas exclusivamente para os pacientes infectados pelo HIV que já foram identificados. É preciso aperfeiçoar o Sistema Único de Saúde, ampliar o acesso aos serviços, atender às necessidades da população como um todo.

Os avanços daqui para a frente no combate à epidemia vão ser difíceis, e cada pequena conquista exigirá muito trabalho.

Estas as reflexões com que espero contribuir para promover o necessário debate sobre o tema.

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