No ano de 2009, o Estado e o povo do Ceará festejam o centenário do nascimento de Patativa do Assaré, uma das maiores e mais significativas expressões da poesia popular brasileira. Antônio Gonçalves da Silva é o nome desse gênio, que veio ao mundo em Assaré, na região do Cariri, em 5 de março de 1909, e morreu em 2002, aos 93 anos de idade.
Mais do que poeta, repentista e cantador, Patativa foi um notável cearense, merecedor da admiração e do respeito a que fazem jus, e tantos outros que, pela grandeza humana e pelo fulgor da inteligência, dignificam a terra em que nasceram.
Justas, pois, são as homenagens com que o nosso povo comemora o centenário desse brilhante artista, que nos deixou um legado de sabedoria, de emoção e de beleza.
Como José Albano, outro magnífico bardo cearense, Patativa do Assaré também poderia dizer: Poeta fui, e do áspero destino / senti bem cedo a mão pesada e dura.
Filho de um modesto agricultor, já na primeira infância perde a visão do olho direito, como Camões. Aos 8 anos, torna-se órfão de pai e começa a lavrar a terra, para sobreviver; aos 12, alfabetiza-se durante os quatro meses em que frequenta a escola, à qual jamais voltaria; um ano depois compõe os primeiros versos; com 16 anos, compra uma viola e começa a cantar de improviso, em feiras e programas de rádio. Logo recebe a alcunha de “Patativa do Assaré”, pela poesia que lembra a beleza do canto dessa ave.
Apenas alfabetizado, não escrevia os poemas que compunha, às vezes com centenas de versos. Guardava-os de cor, dono que era de uma impressionante memória.
A vida inteira morou em Assaré, orgulhoso da roça que plantava anualmente, enquanto sua obra era estudada até em Paris, na Universidade de Sorbonne.
Na caudalosa poesia com que nos fala ao coração e à razão, Patativa valeu-se dos elementos de que se constitui a realidade do sertanejo: o amor, as festas, a chuva, a fé religiosa, mas também a seca, a fome, a pobreza econômica e as injustiças sociais.
Com a linguagem arrevesada de quem mal escrevia, humildemente cantou: Meu verso rastêro, singelo e sem graça / não entra na praça, no rico salão. / Meu verso só entra no campo e na roça, / Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Muito embora as poucas letras, revelava Patativa uma aguda percepção política, uma lúcida consciência social, como no poema Eu quero. Quero paz e liberdade, / Sossego e fraternidade / Na nossa pátria natal. / Desde a cidade ao deserto, / Quero o operário liberto / Da exploração patronal.
Imune às paixões partidárias, declarou certa vez: Não tenho tendência política; sou apenas revoltado contra as injustiças que venho notando desde que tomei algum conhecimento das coisas, provenientes talvez da política falsa (...).
A pesquisadores cearenses ocorreu a feliz ideia de pôr em letra de fôrma o que Patativa guardava na memória. Assim, publicaram-se os livros Inspiração nordestina, Cante lá que eu canto cá, Ispinho e Fulô, Digo e não peço segredo e Aqui tem coisa.
Esse, o registro com que, em nome do Ceará e do povo cearense, saudo Patativa do Assaré, pelo centenário do seu nascimento.
A esse gênio brasileiro, o nosso respeito e a nossa homenagem, pela inspiração com que soube transformar em poesia a realidade social do Nordeste e a grandeza humana do homem nordestino.
quinta-feira, 5 de março de 2009
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