quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Bárbara

Registro aqui minha homenagem a uma heroína do Estado do Ceará, Bárbara de Alencar, por ocasião da passagem da data comemorativa de seu nascimento.

Ela nasceu em 11 de fevereiro de 1765, no sertão de Pernambuco, tendo se mudado para o Crato quando de seu casamento.

Mulher de personalidade forte, desafiou o preconceito e as convenções vigentes, envolvendo-se nas principais questões políticas de sua época. Dotada de grande autoridade moral, estendia sua influência a diversas famílias do Nordeste, com as quais mantinha laços de parentesco ou amizade.

Embora pertencesse à tradicional oligarquia do Cariri, compartilhava dos ideais iluministas responsáveis pela onda de mudança que varria a Europa e a América. Assim, não hesitou em abraçar a causa dos libertários da Revolução de 1817, iniciada no Recife e logo propagada pelas regiões vizinhas.

Corajosamente, participou desse movimento, animando o mesmo sonho de independência que havia embalado Tiradentes alguns anos antes.

Junto com três de seus cinco filhos —José Martiniano de Alencar, Carlos José dos Santos e Tristão Gonçalves de Alencar e Araripe—, transformou sua casa no centro da conspiração em terras cearenses. Atraiu simpatizantes, bem como inspirou e liderou os breves, porém dramáticos, dias de maio, durante os quais chegou a ser proclamada a República do Crato.

Mas, infelizmente, a hora da Independência do Brasil ainda não havia chegado. Vencidos os revolucionários, Bárbara de Alencar foi presa com os três filhos e teve todos os bens confiscados, podendo ser considerada, dessa forma, a primeira mulher submetida à prisão por razões políticas em nosso País.

Nem a viuvez nem os seus mais de cinquenta anos conseguiram poupá-la da humilhação e do sofrimento. Durante mais de 3 anos, recebeu tratamento cruel nos cárceres de Icó, Fortaleza, Recife e Salvador, por onde passou.

Nordestina de fibra, não se deixou abater pela dura provação. Obteve a liberdade em novembro de 1820, e, perseverante em seus ideais, continuou a inspirar a luta que levaria à proclamação da Independência do Ceará, em Icó, em 16 de outubro de 1822.

A vida ainda lhe reservaria nova oportunidade de demonstrar a força de seu caráter. Durante a Confederação do Equador, que inflamou as Províncias do Nordeste, em 1824, acompanhou os filhos sublevados contra os desmandos do Imperador Pedro I.

O levante foi derrotado; os revoltosos punidos. E Bárbara de Alencar teve de comprometer as derradeiras energias na tentativa de libertar seus 3 filhos. Por maiores que tenham sido os esforços e as súplicas, não logrou completo sucesso em seu intento e amargou a desventura de ver fuzilados dois deles: Carlos e Tristão.

Enfim, cansada de tanta luta, recolheu-se a seu sítio, onde morreu em 1832. Pediu um enterro simples, em uma rede, do modo como eram sepultados seus escravos, os quais, segundo afirmou, sempre foram amigos leais.

Bárbara de Alencar foi, ao mesmo tempo, revolucionária e mãe extremada, heroína e geradora de heróis. Legou ainda sua grandeza a descendentes como o neto, José de Alencar, também ele um nobre lutador, mas no campo da literatura, em prol da independência da língua e da cultura nacionais.

Legado, esse, que constitui até hoje extraordinário exemplo da força e da dignidade da mulher brasileira.

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