sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Farias Brito

É preciso reeditar Farias Brito, dizia o título de um artigo publlicado em 1930, por Almeida Magalhães, na revista Novidades Literárias, Artísticas e Científicas, do Rio de Janeiro.

Esse clamor somente seria atendido anos depois. O Instituto Nacional do Livro (INL) publicaria, em 2ª edição, as obras filosóficas de Farias Brito, cujas primeiras edições datam do final do século XIX e início do século XX. Os relançamentos incluíram O Mundo Interior (1951), A verdade como Regra das Ações (1953), A Base Física do Espírito (1953) e os três volumes de Finalidade do Mundo (1957).

O tempo passou e os livros do filósofo cearense não mais foram reeditados. Os exemplares do INL, não são fáceis de encontrar. Decorridos mais de 50 anos, foi necessário grande esforço para reeditar Farias Brito.

Lúcio Alcântara, quando esteve à frente do Governo do Estado do Ceará (2003-2006), através da Secretaria da Cultura, que em parceria com o Senado Federal (SF), promoveu novas edições de A verdade como regra das ações (2005), O mundo interior (2006) e A Base física do espírito (2006).

No ano de 2008, ainda pelo Senado Federal, tivemos a publicação de Finalidade do mundo, em seus três volumes. Resta-nos, apenas, ver uma nova edição de Inéditos e dispersos, que reúne documentos biográficos e literários do pensador cearense.

Poeta, literato, polemista, Raimundo Farias Brito nasceu em 24 de julho de 1862, na então Vila de São Benedito, interior do Ceará, mudando-se depois para Ipu, Sobral e Fortaleza. Na capital, cursou o antigo Liceu do Ceará, onde concluiu os estudos secundários e revelou grande apego aos livros. Formou-se em Direito na Faculdade do Recife, no Estado de Pernambuco, em 1884, tendo recebido as influências de Tobias Barreto.

Depois de formado, atuou como promotor e secretário no Governo do Ceará. Entre 1902 e 1909, regeu a Cátedra de Filosofia da Escola Jurídica do Pará. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, venceu o concurso para lecionar lógica no renomado Colégio Pedro II, mas por injunções políticas, só ocupou o cargo após a morte de Euclides da Cunha, que fora colocado em seu lugar.

A obra de Farias Brito tem sido objeto de estudos e seminários no Brasil e no exterior. Figuras de destaque do pensamento brasileiro já se manifestaram favoravelmente sobre ele. Benedito Nunes, um dos maiores estudiosos de sua obra, destaca na Revista do Livro, 25, ano VI, março de 1964:
[Farias Brito] empenhou-se fundo na demolição do positivismo, que impregnou a mentalidade dos nossos republicanos históricos, e na crítica das formas mecanicista e evolucionista do Materialismo do século XIX. Pretendia erguer sobre os escombros dessas doutrinas uma Filosofia do Espírito, capaz de contribuir para a regeneração da sociedade.
Farias Brito faleceu no Rio de Janeiro, em 16 de janeiro de 1917.
O poeta cearense Mário Linhares lhe dedicou o soneto abaixo, publicado na Revista da Academia Cearense de Letras, ano LXVI, nº 31, Imprensa Universitária do Ceará, 1962:
A verdade como Regra das Ações
Farias Brito
MESTRE: - Cedeste, enfim, à fatal contingência
Da morte que, ainda em meio à gloriosa labuta,
Ao golpe iníquo e atroz de sua força bruta,
Te abateu a energia heróica da existência.

E cedo assim te foste. E, na brusca violência
Da dor que nos feriu, o nosso ser se enluta,
A evocar os ideais da tua alma impoluta
Que se sacrificou em bolocausto à Ciência.

Perquiriste a Razão e buscaste a Verdade,
Sondando a Alma que sofre e a Vida que se agita
Como nas convulsões de um mar em tempestade.

E, à eterna luz do teus ensinamentos grandes,
Teu nome pairará numa altura infinita
Como um Condor que atinge o pincaro dos Andes.

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