Discurso proferido pelo deputado Leo Alcântara nesta quinta-feira (12).
Venho, a esta Tribuna, tratar junto aos nobres pares desta Casa Legislativa, um assunto que muito me toca. Refiro-me à cidade do Padre Cícero Romão Batista, segunda maior cidade do meu Estado, o Ceará, em capacidade econômica, e uma das maiores cidades brasileiras em religiosidade. Essa é a nossa tão estimada Juazeiro do Norte, localizada ao sul do Ceará.
De 9 a 11 de julho deste, a cidade mergulha em festas. Acontecem lá, inúmeras comemorações que marcam o aniversário daquele município. Aqui, por gratidão e reconhecimento, quero registrar os meus sinceros cumprimentos àquela comunidade juazeirense do norte, através do prefeito Raimundo Macedo, que tão bem vem conduzindo os destinos daquela bela cidade.
A tradição religiosa começou em 1872, quando era apenas um arraial, com algumas poucas casas de tijolo e uma rústica capela. No dia 11 de abril daquele ano, cavalgando num jumento, como um nazareno sertanejo, Padre Cícero entrou em Juazeiro e, deste dia em diante, nem Juazeiro e nem o seminarista seriam os mesmos.
Padre Cícero Romão Batista introduziu uma política de fé, amor e trabalho na região, tornando-se um mito para o povo nordestino. A sua festa data desde a época de seu falecimento, em 20 de julho de 1934. É uma das mais impressionantes e consagradas romarias do Nordeste e, nessa ocasião, a cidade se converte não só num centro de devoção com missas, bênçãos de imagens, procissões, novenas, peregrinações e visitações aos locais de interesse religioso, mas, também, num extraordinário mercado de artesanato regional e artigos religiosos.
Cícero Romão Batista nasceu no Crato em 24 de março de 1844 e faleceu em Juazeiro do Norte. É conhecido como Padre Cícero, ou, mais coloquialmente, “Padim Ciço”. Iniciou a carreira eclesiástica em 1865, no Seminário da Prainha, em Fortaleza; ordenou-se padre em 1870. Em 1872, foi nomeado vigário de Juazeiro do Norte, então um pequeno povoado na região do semi-árido cearense; angariou fundos para a construção de uma igreja e passou a desenvolver intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares.
Em 1889, durante uma comunhão, a hóstia consagrada por ele sangrou na boca de uma beata chamada Maria de Araújo. O povo considerou o fato um milagre; as toalhas utilizadas para limpar o sangue tornaram-se objetos de adoração; a notícia espalhou-se, e Juazeiro começou a ser visitada por peregrinos interessados nos poderes do Padre.
Cícero foi acusado por membros do Vaticano de mistificação (manipulação da crença popular) e heresia (desrespeito às normas canônicas); em 1894, foi punido com a suspensão da ordem. Por todo o restante da vida, Cícero tentou, em vão, revogar a pena. Em 1898, foi a Roma e encontrou-se com o Papa Leão XIII, que lhe concedeu indulto parcial, mas manteve a proibição de celebrar missas; apesar da proibição, Cícero jamais deixou de celebrar missas em sua igreja em Juazeiro.
Cícero valeu-se do enorme prestígio entre os fiéis para ingressar na carreira política. Em 1911, com a emancipação de Juazeiro, elegeu-se Prefeito e ocupou o cargo por quinze anos; Cícero engajou-se tanto nas disputas políticas entre os oligarcas cearenses que acabou por ver-se na situação de enfrentar tropas federais, enviadas para uma intervenção. Posteriormente, foi nomeado vice-governador do Ceará e eleito Deputado Federal, mas, como não queria deixar Juazeiro, jamais exerceu nenhum desses cargos. Até sua morte, aos 90 anos, foi uma das mais expressivas figuras políticas do Estado.
Depois de falecer, sua fama e seus feitos foram divulgados entre as camadas populares, não raramente com certo exagero dos poetas populares. Embora ainda banido pela Igreja, tornou-se, de fato, um santo entre os sertanejos.
No final do século 20, o Papa Bento XVI, quando ainda era Cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma, propôs um estudo sobre o Padre Cícero com a finalidade de, possivelmente, reabilitá-lo perante a Igreja Católica e, eventualmente, beatificá-lo. No dia 22 de março de 2001, Padre Cícero foi eleito o Cearense do Século, em pesquisa organizada pela Rede Globo e TV Verdes Mares.
Além dos aproximadamente 232 mil habitantes, milhares de fiéis de vários estados nordestinos visitam Juazeiro do Norte para participar das festividades que têm como personagem principal Padre Cícero Romão Batista, considerado santo por seus devotos. A confecção e o comércio de artigos religiosos relacionados a Padre Cícero é uma das principais atividades econômicas da cidade.
Juazeiro vive à sombra do romeiro. Suas indústrias, prédios modernos, progresso e até um estádio de futebol, o Romeirão, estão visceralmente ligados à presença do romeiro. Segundo dados da prefeitura local, cerca de 2 milhões de romeiros visitam o túmulo de Padre Cícero anualmente.
O artesanato é uma das maiores atividades de Juazeiro. Fazem-se imagens do padre em diversos tamanhos, desde miniaturas até o tamanho natural. Graças ao padre Cícero é que existe trabalho para muita gente da região. Nome de uma árvore típica da região Nordeste, Juazeiro surgiu a partir do desmembramento da cidade do Crato; ao longo do século 20, graças à ação política de Padre Cícero, com um crescimento econômico mais acelerado.
O principal ponto de visitação da cidade é a Serra do Horto, onde estão a estátua do Padre Cícero, medindo 25 metros de altura, o Museu Vivo da Cultura popular Nordestina, o Santo Sepulcro, a Muralha da Guerra de XIV e a Via Sacra. O Santuário do Coração de Jesus, a Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores e a Capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro são outros pontos turísticos visitados pelos peregrinos. O Memorial do Padre Cícero abriga um acervo de fotos e objetos relativos à vida do padre.
Além da religiosidade, a população local preserva aspectos seculares da sua cultura, como o artesanato. No Centro de Cultura Popular Mestre Noza, pode-se acompanhar o ofício dos artesãos que confeccionam e comercializam peças em madeira. Na Associação dos Artesãos da Mãe das Dores, objetos de decoração e utensílios domésticos são produzidos e comercializados. Juazeiro do Norte também é um importante pólo agropecuário, calçadista e de artigos folheados a ouro. A economia proporciona a realização de eventos de grande porte para a região, como a Feira de Tecnologia e Calçados do Cariri e a Feira de Negócios do Cariri.
A efervescência cultural é outro atrativo turístico que os visitantes prestigiam em Juazeiro do Norte. Reisado, Lapinha, Maneiro-Pau, bandas cabaçais, Bumba-meu-boi e diversas danças são exemplos de manifestações populares na cidade. Na culinária, destaque para o baião-de-dois com pequi, queijo da terra e carne de sol com macaxeira. Um convite tentador a todos que gostam e preservam a cultura popular brasileira.
Essa é a nossa eternizada Juazeiro do Norte. Parabéns, Juazeiro.
Era o que tinha a dizer.
Muito obrigado.
quinta-feira, 12 de julho de 2007
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Um comentário:
Veja, através do meu blog, documentário recente que fiz sobre Padre Cícero, intitulado: PADIM CIÇO, SANTO OU CORONEL? Se gostar indique para os seus contatos, comente. Antecipadamente agradeço. Precisamos fazer da blogosfera, com todo potencial que tem, uma mídia alternativa mais poderosa que a mídia atual, voltada apenas para o interesse de alguns grupos econômicos e políticos. Temos que armar rede, unirmo-nos. Meu blog: www.valdecyalves.blogspot.com
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